quarta-feira, 29 de abril de 2020

A LÍNGUA




“A língua também é um fogo.”
(Tiago, 3:6)

A desídia das criaturas justifica as amargas considerações de Tiago, em sua epístola aos companheiros.
O início de todas as hecatombes no Planeta localiza-se, quase sempre, no mau uso da língua.
Ela está posta, entre os membros, qual leme de embarcação poderosa, segundo lembra o grande apóstolo de Jerusalém.
Em sua potencialidade, permanecem sagrados recursos de criar, tanto quanto o leme de proporções reduzidas foi instalado para conduzir.
A língua detém a centelha divina do verbo, mas o homem, de modo geral, costuma desviá-la de sua função edificante, situando-a no pântano de cogitações subalternas e, por isto mesmo, vemo-la à frente de quase todos os desvarios da humanidade sofredora, cristalizada em propósitos mesquinhos, à míngua de humildade e amor.
Nasce a guerra da linguagem dos interesses criminosos, insatisfeitos.
As grandes tragédias sociais se originam, em muitas ocasiões, da conversação dos sentimentos inferiores.
Poucas vezes a língua do homem há consolado e edificado os seus irmãos; reconheçamos, porém, que a sua disposição é sempre ativa para excitar, disputar, deprimir, enxovalhar, acusar e ferir  desapiedadamente.
O discípulo sincero encontra nos apontamentos de Tiago uma tese brilhante para todas as suas experiências. E, quando chegue a noite de cada dia, é justo interrogue a si mesmo: – “Terei hoje utilizado a minha língua, como Jesus utilizou a dele?”
  


Emmanuel/Chico Xavier
Livro: Pão Nosso

segunda-feira, 27 de abril de 2020

OLHOS




“Eles têm os olhos cheios de adultério.”
(II Pedro, 2:14)


“Olhos cheios de adultério” constituem rebelde enfermidade em nossas lutas evolutivas.
Raros homens se utilizam dos olhos por lâmpadas abençoadas e poucos os empregam como instrumentos vivos de trabalho santificante na vigília necessária.
A maioria das criaturas trata de aproveitá-los, à frente de quaisquer paisagens, na identificação do que possuem de pior.
Homens comuns, habitualmente, pousam os olhos em determinada situação apenas para fixarem os ângulos mais apreciáveis aos interesses inferiores que lhes dizem respeito. Se atravessam um campo, não lhe anotam a função benemérita nos quadros da vida coletiva e sim a possibilidade de lucros pessoais e imediatos que lhes possa oferecer. Se enxergam a irmã afetuosa de jornada humana, que segue não longe deles, premeditam, quase sempre, a organização de laços menos dignos. Se encontram companheiros nos lugares em que atendem a objetivos inferiores, não os reconhecem como possíveis portadores de idéias elevadas, porém como concorrentes aos seus propósitos menos felizes.
Ouçamos o brado de alarme de Simão Pedro, esquecendo o hábito de analisar com o mal.
Olhos otimistas saberão extrair motivos sublimes de ensinamento, nas mais diversas situações do caminho em que prosseguem.
Ninguém invoque a necessidade de vigilância para justificar as manifestações de malícia. O homem cristianizado e prudente sabe contemplar os problemas de si mesmo, contudo, nunca enxerga o mal onde o mal ainda não existe.



Emmanuel/Chico Xavier
Livro: Pão Nosso

domingo, 26 de abril de 2020

DE MADRUGADA




“E no primeiro dia da semana Maria Madalena
foi ao sepulcro, de madrugada, sendo
ainda escuro, e viu a pedra removida do
sepulcro.” (João, 20:1)


Não devemos esquecer a circunstância em que Maria de Magdala recebe a primeira mensagem da ressurreição do Mestre.
No seio de perturbações e desalentos da pequena comunidade, a grande convertida não perde tempo em lamentações estéreis nem procura o sono do esquecimento.
Os companheiros haviam quebrado o padrão de confiança.
Entre o remorso da própria defecção e a amargura pelo sacrifício do Salvador, cuja lição sublime ainda não conseguiam apreender, confundiam-se em atitudes negativas. Pensamentos contraditórios e angustiados azorragavam-lhes os corações.
Madalena, contudo, rompe o véu de emoções dolorosas que lhe embarga os passos. É imprescindível não sucumbir sob os fardos, transformando-os, acima de tudo, em elemento básico na construção espiritual, e Maria resolve não se  acovardar, ante a dor. Porque o Cristo fora imolado na cruz, não seria lícito condenar-lhe a memória bem amada ao olvido ou à indiferença.
Vigilante, atenta a si mesma, antes de qualquer satisfação a velhos convencionalismos, vai ao encontro do grande obstáculo que se constituía do sepulcro, muito cedo, precedendo o despertar dos próprios amigos e encontra a radiante resposta da Vida Eterna.
Rememorando esse acontecimento simbólico, recordemos nossas antigas quedas, por havermos esquecido o “primeiro dia da semana”, trocando, em todas as ocasiões, o “mais cedo” pelo “mais tarde”.


Emmanuel/Chico Xavier
Livro: Pão Nosso

quinta-feira, 23 de abril de 2020

ENTENDIMENTO





“Transformai-vos pela renovação do vosso
entendimento.” Paulo (Romanos, 12:2)


Quando nos reportamos ao problema da transformação espiritual, a comunidade dos discípulos do Evangelho concorda conosco, quanto a semelhante necessidade, mas nem todos demonstram perfeita compreensão do assunto.
No fundo, todos anelam a modificação, no entanto, a maioria não aspira senão à mudança de classificação convencional.
Os menos favorecidos pelo dinheiro buscam escalar o domínio das possibilidades materiais, os detentores de tarefas humildes pleiteiam as grandes posições e, num crescendo desconcertante, quase todos pretendem a transformação indébita das oportunidades a que se ajustam, mergulhando na desordem inquietante.
A renovação indispensável não é a de plano exterior flutuante.
Transformar-se-á o cristão devotado, não pelos sinais externos, e sim pelo entendimento, dotando a própria mente de nova luz, em novas concepções.
Assim como qualquer trabalho terrestre pede a sincera aplicação dos aprendizes que a ele se dedicam, o serviço de aprimoramento mental exige constância de esforço no bem e no conhecimento.
Ainda aqui, é forçoso reconhecer que a disciplina entrará com fatores decisivos.
Não te cristalizes, pois, em falsas noções que já te prejudicaram o dia de ontem.
Repara a estrutura dos teus raciocínios de agora, ante as circunstâncias que te rodeiam.
Pergunta a ti próprio quanto ganhaste no Evangelho para analisar retamente esse ou aquele acontecimento de teu caminho.
Faze isto e a Bondade do Senhor te auxiliará na esclarecedora resposta a ti mesmo.



Emmanuel/Chico Xavier
Livro: Pão Nosso

quarta-feira, 22 de abril de 2020

CURA DO ÓDIO




“Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe
de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque,
fazendo isto, amontoarás brasas de fogo
sobre a sua cabeça.” Paulo (Romanos, 12:20)


O homem, geralmente, quando decidido ao serviço do bem, encontra fileiras de adversários gratuitos por onde passe, qual ocorre à claridade invariavelmente assediada pelo antagonismo das sombras.
Às vezes, porém, seja por equívocos do passado ou por incompreensões do presente, é defrontado por inimigos mais fortes que se transformam em constante ameaça à sua tranqüilidade.
Contar com inimigo desse jaez é padecer dolorosa enfermidade no íntimo, quando a criatura ainda não se afeiçoou a experiências vivas no Evangelho.
Quase sempre, o aprendiz de boa vontade desenvolve o máximo das próprias forças a favor da reconciliação; no entanto, o mais amplo esforço parece baldado. A impenetrabilidade caracteriza o coração do outro e os melhores gestos de amor passam por ele despercebidos.
Contra essa situação, todavia, o Livro Divino oferece receita salutar. Não convém agravar atritos, desenvolver discussões e muito menos desfazer-se a criatura bem intencionada em gestos bajulatórios. Espere-se pela oportunidade de manifestar o bem.
Desde o minuto em que o ofendido esquece a dissensão e volta ao amor, o serviço de Jesus é reatado; entretanto, a visão do ofensor é mais tardia e, em muitas ocasiões, somente compreende a nova luz, quando essa se lhe converte em vantagem ao círculo pessoal.
Um discípulo sincero do Cristo liberta-se facilmente dos laços inferiores, mas o antagonista de ontem pode persistir muito tempo, no endurecimento do coração. Eis o motivo pelo qual dar-lhe todo o bem, no momento oportuno, é
amontoar o fogo renovador sobre a sua cabeça, curando-lhe o ódio, cheio de expressões infernais.

  

Emmanuel/Chico Xavier
Livro: Pão Nosso

terça-feira, 21 de abril de 2020

PENSAMENTOS




CAPÍTULO XXVIII
Não transferir aos amigos, sejam quais forem, a culpa de nossos fracassos ou qualquer das obrigações que a vida nos atribui.

CAPÍTULO XXIX
Recordemos a sábia advertência do apóstolo Paulo:
— Aquele, pois, que pensa estar em pé, olhe, não caia.”

CAPÍTULO XXX
Importante saber se já recolhemos dificuldades e provações por reais benefícios;
Se procuramos renovar-nos constantemente, em espírito, para fazer o melhor ao nosso alcance;
O que estamos produzindo a favor do próximo, seja no trabalho remunerado ou na atividade gratuita das boas obras;
Se já sabemos esquecer as ofensas alheias, tanto quanto desejamos que as nossas sejam esquecidas;
Se o nosso entusiasmo é invariável na prática do bem.

CAPÍTULO XXXI
Toda frase, no mundo da alma, é semelhante a engenho de projeção suscitando imagens na câmara oculta do pensamento.
Temos assim, frases e frases:
duras como o aço;
violentas como fogo;
suaves como brisa;
reconfortantes como sol;
mordentes quais lâminas;
providenciais como bálsamos.
Saibamos, desse modo, compor as nossas frases com as nossas melhores palavras, nascidas de nossos melhores sentimentos, porque toda peça verbal rende luz ou sombra, felicidade ou sofrimento, bem ou mal para aquele que lhe faz o lançamento na Criação.

CAPÍTULO XXXII
Levantarás magnificentes construções terrestres, mas enquanto não ergueres em ti próprio o templo da paz, alcançado no dever nobremente cumprido, não encontrarás em teu benefício o pouso interior da genuína tranquilidade.

CAPÍTULO XXXIII
Necessário abrir o coração à bondade, o cérebro à compreensão, a existência ao trabalho, o passo ao bem, o verbo à fraternidade. Imperioso abrir igualmente o livro edificante ao estudo, a bolsa à beneficência, a capacidade à cooperação e o caminho à hospitalidade.

CAPÍTULO XXXIV
A cada passo, ouvimos de companheiros plenamente capacitados para o exercício das obras, afirmações como estas:
— “Compreendendo a necessidade do esforço no bem, mas não estou preparado para tomar compromissos.”
— “Quem sou eu para auxiliar?!...”
— “Não tenho merecimento...”
— “Sou criatura indigna de viver...”
Entretanto, esses mesmos amigos, nas lides materiais, não se acanham de asseverar que estão procurando melhoria de nível, seja no campo do trabalho, na esfera dos vencimentos, no cultivo da inteligência ou nos recursos da profissão.

CAPÍTULO XXXV
Quem te poderá fazer mal, se procuras somente o bem? Pensa nisso, atendendo a isso, e verificarás que a segurança íntima reside em ti mesmo, qual acontece à paz da alma, que vem a ser patrimônio de cada um.

CAPÍTULO XXXVI
A moeda, a cultura da inteligência, o verbo fulgurante e a segurança social nem sempre conseguem suprimir os problemas da pobreza, porque não nos é lícito esquecer a pobreza de espírito.

CAPÍTULO XXXVII
Distribuindo alimento às vítimas da penúria, abstém-te de azedar o pão com o vinagre da reprimenda, respeitando a condição dos que lhe batam à porta.

CAPÍTULO XXXVIII
Há doentes do corpo e doentes da alma. É forçoso não esquecer isso, porque todos eles são credores de entendimento e bondade, amparo e restauração. Diante de quem quer que seja, em posição menos digna perante as leis da harmonia que governam o Universo e a Vida, recordemos as palavras do Cristo: “não são os que gozam saúde que precisam de médico.”

CAPÍTULO XXXIX
Jamais transfigurar a verdade em bastão de castigo, mas dosá-la e usá-la no veículo do amor, à maneira de esclarecimento e remédio, renovação e consolo, escola e incentivo à prática do bem.

CAPÍTULO XL
O adversário é sempre alguém digno de auxílio ao nosso alcance, mas nem sempre, com desculpa de amor, devemos fazer aquilo que ele estima fazer.




De “O LIGEIRINHO”
de Francisco Cândido Xavier
pelo Espírito Emmanuel

segunda-feira, 20 de abril de 2020

AS QUATRO OPERAÇÕES




       O conhecimento das quatro operações fundamentais da Aritmética: adição, subtração, multiplicação e  divisão, é-nos absolutamente indispensável, pois, sem essa base, impossível alcançarmos qualquer adiantamento no campo das ciências exatas.
       Semelhantemente, a evolução de nossas almas depende, também, de que saibamos somar, subtrair, multiplicar e dividir, com a diferença de que, neste caso, não se trata de operar om simples algarismos, mas com valores outros, bem mais importantes.
       Devemos, primeiramente, habilitar-nos a somar.
       Somar experiências, isto é, conhecer o porquê de tudo quanto acontece em nosso derredor e em nós mesmos; senhorear-nos das causas e efeitos de todos os fenômenos, sejam físicos, espirituais ou sociais, para que nos tornemos aptos a discernir entre o útil e necessário e o que, ao revés, seja nocivo e inconveniente a nós e a nossos semelhantes.
       A conquista desse tirocínio, é óbvio, demanda longo tempo e muito esforço; implica a vivência de uma variedade imensa de situações em que as quedas e as dilacerações dolorosas se verificarão com frequência, mas valerão a pena, porque todo esse sofrimento se transformará, depois, em auréola de glória.
       Em seguida, exercitar-nos em diminuir.
       Diminuir as necessidades grosseiras, herança de nossa passagem pela animalidade, e os apetites desordenados, próprios de nossa infância espiritual, esforçando-nos por alijar de nós a glutonaria, a sensualidade e os demais vícios a que nos tenhamos escravizado.
       Diminuir, também, o apego às posses materiais, o personalismo egoísta e a vaidade, pois tal coisas são grilhões que nos prendem a este mundo, impedindo alcemos voo a planos mais altanados.
       Diminuir, ainda, as agrestias de nosso caráter, despojando-nos da crueldade, da intolerância, do orgulho etc., reduzindo, consequentemente, as áreas de atrito e de desarmonia com nossos irmãos.
       Cumpre-nos, depois, aprender a multiplicar.
       Multiplicar o bem-estar coletivo, tornando-nos elementos prestantes no meio social a que pertencemos.
       Multiplicar as obras de amparo aos desgraçados de todos os matizes, não com o objetivo de ganhar o céu, mas como quem obedece ao imperativo do Dever.
       Multiplicar a liberdade no mundo, lutando pela igualdade dos direitos humanos, sem acepção de sexo, cor, raça ou ideologia.
       Multiplicar a alegria e a paz nos corações, pugnando pela extinção de todo e qualquer conflito, seja de indivíduo contra indivíduo, de classe contra classe ou de nação contra nação.
       Por último, a parte mais difícil do aprendizado: a arte de dividir.
       Dividir o nosso Amor para com todos, sem excluir ninguém, nem mesmo aqueles que, porventura, se considerem nossos adversários, espargindo por onde passemos boas palavras e gestos de bondade, sem esperar compreensão, nem recompensa, servindo, sempre, pelo só prazer de servir.
       Como disse o Mestre dos mestres, somente quando formos capazes dessa divisão de afeto com a família universal é que seremos dignos da companhia do Pai, cuja benignidade faz que os benefícios da chuva e dos raios solares, indispensáveis à vida na Terra, cheguem tanto aos bons como aos maus, aos justos como aos injustos. Isto porque todos nós nos ressentimos de algumas fraquezas que ainda não logramos vencer, e as diversidades de nível evolutivo, que nos distinguem em dado instante, diluir-se-ão no futuro, mercê da Lei do progresso que a todos impele para a frente e para o alto, rumo à perfeição.
  


De “Páginas de Espiritismo Cristão”
de Rodolfo Calligares

ASSUNTO DE TODOS

  Efetivamente não dispões do poder de improvisar a paz do mundo; entretanto, Deus já te concedeu a faculdade de renunciar à execução dos ...