O Livro dos Espíritos
Questão Nr. 264
O exemplo de ontem é a raiz oculta que deita as vergônteas
floridas ou espinhosas na árvore da tua experiência de hoje.
Tens do que deste, tanto quanto recolhes compulsoriamente do que
semeaste.
Nos pais irascíveis e intolerantes, recebes os parceiros de
outras eras, com os quais te cumpliciaste na delinquência, a fim de que lhes
reconduzas o passo à quitação perante a Lei.
Na esposa impertinente e enferma, surpreendes a mulher que
viciaste a distância de obrigações veneráveis, para que, à custa de abnegação e
carinho, lhe restaures no espírito a dignidade do próprio ser.
No companheiro insensato e infiel, tens o ânimo defrontado pelo
homem que desviaste de deveres santificantes, de modo a lhe despertares na
consciência, a preço de sofrimento e renúncia, as verdadeiras noções da honra e
da lealdade.
Nos filhos ingratos, encontras, de novo, aquelas mesmas
criaturas que atiraste ao precipício da irreflexão e da violência, a
exigirem-te, em sacrifício incessante, a escada do reajuste.
Nos empeços da vida social dolorosa e difícil, recuperas
exatamente os estorvos que armaste ao caminho alheio, para que venhas a
esculpir, no santuário das próprias forças, o respeito preciso para com a
tarefa do outros.
No corpo mutilado ou desfalecente, impões a ti mesmo a
resultante dos abusos a que te dedicaste, esquecido de que todos os patrimônios
da marcha são empréstimos da Providência Maior e que sempre devolveremos em
época prevista.
Herdamos, assim, de nós mesmos tudo aquilo que se nos afigura
embaraço e miséria no cálice do destino.
Se desejas, portanto, conquistar em ti mesmo a vitória da luz,
lembra-te, cada dia, de que o meirinho da morte chegará de improviso,
reclamando-te em conta tudo aquilo que o mundo te confia à existência, sejam
títulos nobres e afeições respeitáveis, sejam posses e privilégios que perduram
apenas no escoar de alguns dias, para que, enfim, recebas, por vera
propriedade, os frutos bons ou maus de teus próprios exemplos, que impelirão
tua alma à descida na treva ou à glória imortal da divina ascensão.
“Religião dos Espíritos”
Francisco Cândido Xavier
Espírito Emmanuel
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