— Na minha infinita
ignorância eu pensava que era um poderoso rei para quem o universo existia.
Céus e terras, estrelas e
constelações mares e vergéis, pássaros e animais estavam todos a serviço da
minha insignificância.
Cheguei mesmo a acreditar
que os homens nasceram para me servir, e que, diferente de todos e de tudo, eu
deveria fruir, seguir adiante, não olhar para trás, nem para baixo, somente
para cima, para o futuro de gozo ilimitado.
Atrelado ao carro da
ilusão, a infância correu célere demais, sem que me desse conta, fazendo-me
contemplar o chão que eu pisava e despertando-me para breves reflexões, que não
amadureci.
Logo depois, a fantasia da
juventude foi-se rasgando e despindo-me. Mas, eu me neguei a ver-me igual aos
demais indivíduos.
Quando bebi o licor da
idade da razão embriaguei-me de orgulho, intoxicando o discernimento que me
tentou apresentar os valores reais da vida.
O meu era todo o tempo da
quimera.
Eu me encontrava, é certo,
inebriado pelos vapores do triunfo que a saúde outorga e a presunção premia.
Tinha olhos e via; mas não
enxergava.
Possuía ouvidos e escutava;
porém não entendia.
Pensava; no entanto, não ia
além dos limites estreitos do meu infeliz personalismo.
Quando na maturidade do
tempo que dá perfume à flor, sabor ao fruto, faz o rio alcançar o mar e a chuva
abençoar a terra cansada, comecei a vergar-me na direção do solo, descobrindo
que o meu passo, diminuindo de vigor, projetava sombra onde reinava a
claridade, então surpreendi-me com a rapidez dos dias e a brevidade dos anos,
compreendendo a loucura em que me demorara e sentindo o travo amargo da
frustração.
Todos os prazeres
experimentados, que desfilaram pela minha mente, não me atenderam a fome das
sensações, encontrando-me tão ansioso e vazio quanto antes.
O orgulho tombou-me a
cabeça e a sua coroa de barro se esboroou no choque da realidade.
O trono em que me sentava,
dourado, apenas por fora, estava devorado pelos cupins esfaimados, e
derrubou-me.
Apagaram-se as luzes do
palco de mentira onde eu parecia brilhar, e o espetáculo de fausto cedeu lugar
à realidade inevitável, dorida.
Eu que me supunha rei,
descobria, agora, que apenas fora vassalo infeliz; que buscara aproveitar e
somente perdera; que ambicionara tudo e não possuía nada.
Hoje, porém, sei que Tu és
o Rei Poderoso que, através do amor, governas os corações, e, por isto,
despojado de tudo e de mim mesmo, ajoelho-me aos Teus pés para rogar-Te piedade
e ensejo de seguir contigo.
De
“A um passo da imortalidade”
de
Divaldo P. Franco, pelo Espírito Eros
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