Dona Zefa benzedeira
Morava numa choupana
Em distante vilarejo,
Sozinha na luta humana.
Não sabia o sobrenome,
Nem quantos anos contava.
Era somente Nhá Zefa,
Conforme o povo a chamava.
Benzia de dor de dente,
De cobreiro e mau olhado,
Tendo um raminho de arruda
Na orelha dependurado.
Vivia do seu suor.
Nunca cobrou de ninguém.
Era mesmo Dona Zefa
A missionária do bem.
Para atender um doente,
Se, porventura, chamada,
Fosse dia ou fosse noite,
Cumpria longa jornada.
Certa feita, um peregrino
Aparece em sua casa.
Dona Zefa está no leito,
O corpo tremendo em brasa.
Ele lhe pede uma prece,
Diz saber de sua fama,
Com esforço, ela se ergue,
Assentando-se na cama.
- “De que padeces, meu filho?...
Todos nós somos irmãos...”
O moço lhe respondeu,
Mostrando as chagas das mãos.
- “Não pode ser, não mereço!...”
Exclama, ao ver que é Jesus.
O pranto salta dos olhos
No quarto inundado em luz.
No outro dia, Sol raiando,
Quando um vizinho abre a porta,
Entra e, surpreso, descobre:
Dona Zefa estava morta.
*
Médiuns, irmãos de ideal,
Prossigamos no caminho,
A cruz que pesa nos ombros
Levando devagarinho...
Servir é nosso dever.
Cultivemos a humildade.
Toda a ciência do mundo
Não vale mais que a bondade.
Livro: Caminheiro – Carlos A.
Baccelli
pelo Espírito Eurícledes Formiga