Estás fatigado. O cansaço, qual fluido deletério, vence tuas resistências,
assenhoreando-se do aparelho físico-mental que acionas com dificuldade.
Tantas têm
sido as aflições, as lutas que, desencorajado, te entregas à indiferença quanto
ao futuro sob tormentos que te dominaram a capacidade de lutar.
Tens a
impressão de que o entusiasmo calou a voz da sua emoção no teu sentimento
encarcerado na dor, e sentes o coração como se fosse um diamante bruto a
esfacelar-se dentro do peito, golpeado por vigorosas tenazes que o
despedaçam...
Tudo se te
afigura sombrio e a luz, que se emboscava na gota d’água aprisionada diante dos
teus olhos, agora a vês transformada em lama, no pó, qual a tua antemanhã de sonhos
convertida em noite tempestuosa de pavor.
Lutaste, é
certo.
Reuniste as
energias, qual comandante afervorado a batalhas violentas, colocando-as em
defensivas até a exaustão. Mas tantas foram as agressões e tão continuado o
cerco que desejarias bater em retirada, deixando livre o campo para que se
multiplicassem os maus.
No íntimo
conservas um travo de fel que o sofrimento deixou e como miasma em crescimento
sentes o espírito envenenado, com a amargura em todas as horas.
Uns
companheiros fitam teu sorriso e crêem que o caráter não é um dos teus dotes
mais representativos.
Outros
contemplam tua tristeza e comentam que é débil a tua fé.
Alguns falam
contigo e identificam expressões que deprimem teus sentimentos.
Amigos
discretamente afirmam que foste vencido por “forças negativas” do Mundo
Espiritual.
Confrades
rigorosos negam-te o concurso da amizade deles.
Irmãos
acendem a chama da idiossincrasia e separam aqueles que o teu esforço
infatigável reuniu.
Colaboradores fendem as bases do serviço que desdobras, abnegado, desejando
amesquinhar-te.
Assim crês,
assim vês, assim é... Porque estás cansado.
*
Quem observa
dificuldades somente encontra obstáculos.
Aquele que
se prepara para um dia de calor tem pretexto para a canícula inexistente.
Olhos
acostumados aos detalhes negativos descobrem insignificâncias que enfeiam
qualquer paisagem feliz.
As estrelas
que fulgem além da névoa são ignoradas por quantos se contentam com sombras.
As mãos que
preferem espinhos perdem a sensibilidade para as débeis violetas.
No entanto,
além do que registras, há beleza, harmonia, vida.
O veneno que
o ofídio injeta e com o qual mata, o homem consegue transformar em medicamento
salvador.
A ofensa de
que se utilizam os infelizes para ultrajar, ajuda na ascensão os que sabem
transformar vinditas em bênçãos.
A pedra que
fere também adorna.
O lodo
pestilento devidamente atendido converte-se em perfume delicado na intimidade
da flor.
Transforma
cansaço e tristeza em seiva de vida eterna.
Renasceste,
na Terra, para elaborar a felicidade própria e intransferível.
Rogaste a
dádiva do resgate com as moedas do testemunho e do silêncio.
Esquece-te,
desse modo, de ti mesmo e persevera.
Perdoa,
enquanto podes.
O perdão é
luz que arremessas na direção da vida e que voltará à fonte donde procede.
O conceito
que os outros fazem a teu respeito vale o que valorizas.
As
dificuldades que te impõem obstaculam quanto supões.
O sarcasmo e
a perseguição representam o que consideras.
A dor é o
que se deseja que valha.
Levanta o
espírito e combate.
Não deixes
que os braços das sombras apaguem com mãos de trevas os painéis da tela das
tuas aspirações.
Aprofunda a
mente na pesquisa da verdade e detém-te a examinar a história dos homens
fortes. Não nasceram fortes: fortificaram-se na luta.
O vento
enrija a fibra da sequóia e a tormenta lhe dá vigor.
A chuva que
chafurda o regato aumenta-lhe o volume d’água.
Deixa-te
conduzir pelos testemunhos naturais da experiência carnal e experimenta
perseverar, insistir, continuar...
***
A grandeza
de Jesus afirmada no atroz sacrifício da Cruz teve o seu início na escolha de
singelo berço para continuar nas aparentes mil nonadas da carpintaria humilde,
dos contatos com as gentes simples e pouco esclarecidas, com os enfermos
exigentes, os amigos ingratos, os legisladores e religiosos desonestos, para
culminar na cobardia de alguns discípulos obsidiados com intermitências que O
atraiçoaram, esquecendo o Seu amor para fugirem.
No entanto,
uma vez única deixou-se Ele vencer pelo cansaço e, por isso, não reclamou, não
desistiu, não censurou, não se deteve a examinar o lado infeliz de ninguém,
dedicando-se incansavelmente à construção do bem excelso em favor de todos, a
todos amando e perdoando, apesar de tudo.
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