Ironia é menosprezo, é zombaria disfarçada, é, afinal,
demonstração de total ignorância das leis de Deus. Ironia é desamor.
Aquele que despertou para as coisas superiores jamais usa desse
disfarce, dessa arma traiçoeira e tão ferina, para magoar quem quer que
seja, para melindrar, para ridicularizar.
A ironia apresenta-se em palavras, gestos, olhares ou sorrisos,
sempre com o propósito de magoar.
Lembremo-nos que aquele que usa tal arma contra o seu semelhante
quase sempre acaba ferido pela sua própria arma.
As criaturas com quem convivemos ou aquelas com quem deparamos no
caminho são dignas de respeito, seja qual for a sua condição. Se aquilo que nos
apresentam não é de molde a nos agradar, se é mesmo vulgar ou ridículo,
procuremos entender o que elas nos querem transmitir.
Temos um código secreto na nossa alma, onde poderemos encontrar o
significado de tudo e assim compreender o que essas criaturas realmente nos
querem revelar. Há criaturas em tais estados de alma tão mergulhadas na noite
escura da ignorância, que só conseguem extravasar tolices, às vezes venenos, e
assim vão pela vida afora, recebendo de uns, desprezo, de outros, ironia, e de
muito poucos a piedade construtiva, a que ajuda a erguer, sem
sentimentalismo, mas com compreensão.
Como seria a vida terrena se as criaturas buscassem descobrir a real
finalidade das suas existências? Quantas lágrimas, quantos sacrifícios e
sofrimentos evitados! Mas a criatura humana é ainda tão dispersiva, tão
desatenta, tão cega e surda aos verdadeiros valores, apegada que está aos
falsos valores materiais, aos desejos da carne, que não consegue e não pensa sequer
em lutar por conseguir ver outros panoramas e ouvir outros sons senão aqueles
que satisfazem os seus pobres sentidos humanos. E assim sofre, ironiza da vida
nas outras criaturas, vingando-se dos seus desacertos, da sua cegueira,
principalmente nos que estão mais próximos de si.
Atirando sobre os outros as pedras que colhe no caminho, ferindo as
próprias mãos, revoltando-se mais ainda, porque o seu alvo muitas vezes é
invulnerável. Aquela pedra que atirou volta como ricochete
sobre o seu atirador.
Ironia, meus caros companheiros, é a arma do frustrado, do complexado,
do que está perdido no mundo, do que não tem a menor idéia do que fazer, por
isso mesmo, procura martirizar os outros porque se sente martirizado pela
própria ignorância da verdadeira vida.
Então temos que convir que, seja qual for a mensagem que a vida nos
traga pelas mãos dos nossos companheiros de jornada, precisamos, antes de
jogá-la para um canto como inútil ou ironizar a sua insignificância, lê-la
carinhosamente, atentamente, para encontrar o espírito nela contido e agir
dentro desse espírito.
Se ainda houver em nós um resquício que seja do sentimento de ironia,
transmudemo-lo sem demora em amor, em compreensão, e sentiremos dentro de nós
como foi benéfica essa troca.
Cenyra
Pinto. In: Eu sou o caminho
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