sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O QUE CONVÉM FAZER



"Se alguém dentre os incrédulos vos convidar,
e quiserdes ir, comei de tudo o que for
posto diante de vós, sem nada
perguntardes, por motivo de consciência".
I Coríntios - Cap. 10, v. 27.

    Todas as coisas são lícitas, mas nem todas as coisas convém que sejam feitas. O mundo não poderia ser feito somente com as coisas de que gostas, porque nele vivem bilhões de espíritos reencarnados, com direitos, opiniões e gostos diferentes.

    Se uma religião proíbe a carne como alimento, e te convém abster-te de comê-la, faze-o, sem contudo, julgar a quem come, porquanto, em regiões trevosas há muitos vegetarianos e no campo da luz, como servidores fiéis do Cristo, há muitos e muitos que, quando no corpo físico, comiam carne nos seus repastos. Se a vida situou alguém na embriaguez permanente, não desdenhes dele, nem o maltrates, porque muitos dos embriagados, conhecidos como delirantes de vício, modificaram-se com maior rapidez do que muitos que nunca, naquela existência, levaram um copo com álcool aos lábios; mas há também o contrário. Ao conheceres um assassino, não o julgues como pária da sociedade, sem salvação aos olhos de Deus; muitos deles tornar-se-ão espíritos de luz, com pouco tempo; a força da regeneração transmita a ganga da alma em joias preciosas de valores ilimitados, e alguns dos que se consideram portadores das leis ainda viajam nos campos das sombras, sem saberem quando o de que maneira poderão livrar-se delas, mas encontra-se, também, o caso inverso.

    Se possuis vultosa fortuna, e com ela movimentas meio mundo, não julgues os que nada têm, acreditando que os pobres o são de tudo, até da graça de Deus; existem muitos que foram pobres na terra, mas a resignação, a humildade, o esforço no bem, mesmo em situação penosa, fizeram-nos chegar à plenitude espiritual; e muitos ricos, que esbanjaram fortunas e mais fortunas no mundo, pensando que continuariam com as mesmas riquezas depois da morte, enganaram-se, sofrendo e chorando no vale das sombras, querendo retornar, sem poder, ao corpo físico, mesmo que seja na miséria, e até mendigando de porta em porta; mas há casos, igualmente, do reverso da medalha. Se observares mulheres que se degradaram mais do que os animais, também não as julgues; ora por elas, porque há casos em que, de uma hora para outra, às vezes às portas da morte física, elas se transformam no coração e, com pouco tempo, estão nas lides do Cristo, não raro ajudando aos próprios julgadores.

    Os que se julgaram muito puros vão encontrar dificuldades no mundo espiritual, de ajudarem, qual elas auxiliam, com desembaraço; como há, também, o contrário.

    Se a tua consciência julga que não deves fazer determinada coisa, não a faças, mas não queiras distribuir essa regra para as consciências alheias, por não estarem todas as pessoas no mesmo nível espiritual que o teu. Todas as coisas são lícitas, mas nem tudo pode ser feito por todos; cada um faça o que lhe convém fazer, eis a melhor maneira de se viver em paz com a consciência. Muitos dos que vivem distribuindo conselhos a mancheias, vivem em muitos casos, carecendo deles. Não procures ninguém para orientar; caso venham ao teu encontro, faze o que puderes, e cuida de ver o limite de ajudar. A maior ajuda é a que cada um dá a si mesmo. Tolo é aquele que se transforma em espelho, para ver os defeitos dos semelhantes, fazendo-se de magistrado; cuidado, porque alguém pode estar focalizando-o, com o mesmo interesse.

    Jesus já asseverava, há muito tempo, que "não é o que entra pela boca que macula a alma, e sim o que sai do coração". Isso não quer dizer que podes tomar estanho derretido e veneno em altas doses; tudo, como diz o Evangelho, é como convém fazer, nas doses certas; tudo é útil, tanto para o corpo, quanto para as almas; o exagero é que perturba os espíritos, onde estiverem.

    As regras evangélicas, somente os espíritos superiores as compreendem e vivem; da sua escala para baixo, tanto a compreensão quanto a vivência são relativas à posição espiritual em que cada um se encontra. Nem Deus, nem Jesus Cristo vai amaldiçoar a quem ainda não conseguiu viver todas as virtudes da Boa Nova; e a tolerância e o amor pregados pelos céus? Isso é o que não falta, porque há milhares de anos os mentores espirituais vêm tendo e continuam a ter para com todos nós; somente o completista vive e prega em verdade o Evangelho.

    Porventura podemos exigir de uma criança a mesma coisa que um adulta já aprendeu, em toda sua existência? Seria isso justiça? O que convém fazer é aquilo que podemos realizar. O que nos convém fazer é o que a consciência ditar ou aprovar. O que nos convém fazer é cumprir com os deveres, onde eles nos chamarem. Mas sempre no reto pensar, na reta consciência e no reto proceder. E nunca, mas nunca, esquecer de nos esforçarmos para atingir as culminâncias de todas as virtudes evangélicas, pois é com e através dos próprios esforços, que pisaremos de degrau e galgamos os cimos da superioridade. Mas antes disso acontecer, se alguém te convidar para alguma coisa, sê metódico e prudente, sabendo que tudo é lícito, mas nem tudo convém que seja feito.

    "Se alguém dentre os incrédulos vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que for posto diante de vós, sem nada perguntardes, por motivo de consciência".

(Livro: Alguns ângulos dos ensinos do Mestre. João Nunes Maia por Miramez)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - Prefácio


Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos.

Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos.

As grandes vozes do Céu ressoam como sons de trombetas, e os cânticos dos anjos se lhes associam. Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concerto. Tomai da lira, fazei uníssonas vossas vozes, e que, num hino sagrado, elas se estendam e repercutam de um extremo a outro do Universo.

Homens, irmãos a quem amamos, aqui estamos junto de vós. Amai-vos, também, uns aos outros e dizei do fundo do coração, fazendo as vontades do Pai, que está no Céu: Senhor! Senhor!... e podereis entrar no reino dos Céus.

O ESPÍRITO DE VERDADE

Nota - A instrução acima, transmitida por via mediúnica, resume a um tempo o verdadeiro caráter do Espiritismo e a finalidade desta obra; por isso foi colocada aqui como prefácio


sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

ALGO POR ELES NESTE NATAL



Compadece-te de todos aqueles que não podem ou não sabem esperar. Estão eles em toda parte...

Quase sempre são vítimas da inquietação e do medo. Observa quantos já transpuseram as linhas da própria segurança.

São casais que não se toleram nas primeiras rusgas do matrimônio e desfazem a união em que se compromissaram, abraçando riscos pelos quais, em muitas circunstâncias, cedo se encaminham para sofrimento maior;

são mães que rejeitam os filhos que carregam no seio, entregando-se à prática do aborto, recusando a presença de criaturas que se lhes fariam instrumentos de redenção e reconforto no futuro, caindo, às vezes, em largas faixas de doença ou desequilíbrio;

são homens que repelem os problemas inerentes às tarefas que lhes dizem respeito, escapando para situações duvidosas, sob a alegação de que procuram distração e repouso, quando apenas estão dilapidando a estabilidade das obras que, mais tarde, lhes propiciariam refazimento e descanso;

são amigos doentes ou desesperados que se rebelam contra os supostos desgostos da vida e se inclinam para o suicídio, destruindo os recursos e oportunidades que transportariam para a conquista da vitória e da paz em si mesmos;

são jovens, famintos de liberdade e prazer que, impedidos naturalmente do acesso a satisfações imediatas, se engolfam no abuso dos alucinógenos, estragando as faculdades com que o tempo os auxiliaria na construção da felicidade porvindoura.

Neste NATAL, façamos algo por eles, os nossos irmãos que ignoram ou que não querem aceitar os benefícios da serenidade e da esperança.

Pronuncia algumas frases de otimismo e encorajamento; escreve algum bilhete que os reanime para a bênção de viver e servir; estende simpatia em algum gesto espontâneo de gentileza; repete consideração e concurso amigo nos diálogos que colaborem na sustentação da paz e da solidariedade.

Não te declares sem possibilidade de contribuir, nem digas que tens todas as tuas horas repletas de encargos e serviços dos quais não te podes distanciar.

Faze algo, no soerguimento do bem.

Nas realizações da fraternidade, quem ama faz o tempo.

(XAVIER, Francisco Cândido. Deus Aguarda. Pelo Espírito Meimei)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

EDUCAÇÃO



Educa o terreno e terás o pão farto.
Educa a árvore e receberás a bênção da fartura.
Educa o minério e obterás a utilidade de alto preço.
Educa a argila e plasmarás o vaso nobre.
*
Educa a inteligência e atingirás a sabedoria.
Educa as mãos e acentuarás a competência.
Educa a palavra e colherás simpatia e cooperação.
Educa o pensamento e conquistarás a ti mesmo.
*
Sem o alfabeto anoitece o espírito.
Sem o livro falece a cultura.
Sem o mérito da lição a vida seria animalidade.
Sem a experiência e a abnegação dos que ensinam, o homem não romperia as faixas da infância.
*
Em toda parte, vermos a ação da Providência Divina, no aprimoramento da Alma Humana.
Aqui, é o Amor que edifica,
Além, é o Trabalho que aperfeiçoa,
Mais adiante é a Dor que regenera.
*
Meus amigos, a Terra é nossa escola milenária e sublime.
Jesus é o Nosso Divino Mestre.
O Espiritismo, sobretudo, é obra de educação.
Façamos da educação com o Cristo o culto de nossa vida, para que a nossa vida possa educar-se e educar com o Senhor, hoje e sempre.

(Livro: Taça de Luz. Francisco Cândido Xavier por Emmanuel) 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

PROGRAMA CRISTÃO



Aceitar a direção de Jesus.
Consagrar-se ao Evangelho Redentor.
Dominar a si mesmo.
Desenvolver os sentimentos superiores.
Acentuar as qualidades nobres.
Sublimar aspirações e desejos.
Combater as paixões desordenadas no campo íntimo.
Acrisolar a virtude.
Intensificar a cultura, melhorando conhecimentos e aprimorando aptidões.
Iluminar o raciocínio.
Fortalecer a fé.
Dilatar a esperança.
Cultivar o bem.
Semear a verdade.
Renovar o próprio caminho, pavimentando-o com o trabalho digno.
Renunciar ao menor esforço.
Apagar os pretextos que costumam adiar os serviços nobres.
Estender o espírito de serviço, secretariando as próprias edificações.
Realizar a bondade, antes de ensiná-la aos outros.
Concretizar os ideais elevados que norteiam a crença.
Esquecer do perigo no socorro aos semelhantes.
Colocar-se em esfera superior ao plano escuro da maledicência
Ganhar tempo, aproveitando as horas em atividade sadia.
Enfrentar corajosamente os problemas difíceis na experiência humana.
Amparar os ignorantes e os maus.
Auxiliar os doentes e os fracos.
Acender a lâmpada da boa vontade onde haja sombras e incompreensão.
Encontrar nos obstáculos os necessários recursos à superação de si próprio.
Perseverar no bem até o fim da luta.
Situar a reforma de si mesmo, em Jesus Cristo, acima de todas as exigências da vida terrestre.

(Livro: Taça de Luz.Francisco Cândido Xavier por Emmanuel)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

DIA-A-DIA


        
    Nas curtas viagens do dia-a-dia, todos nós encontramos o próximo, para cuja dificuldade somos o próximo mais próximo.
            Imaginemo-nos, assim, numa excursão de cem passos que nos transporte do lar à rua. Não longe, passa um homem que não conseguimos, de imediato, reconhecer.
            “Quem será?” — perguntamos em pensamento.
            E a Lei de Amor no-lo aponta como alguém que precisa de algo:
            se vive em penúria, espera socorro;
            se abastado, solicita assistência moral, de maneira a empregar, com justiça, as sobras de que dispõe;
            se aflito, pede consolo;
            se alegre, reclama apreço fraterno, para manter-se ajustado à ponderação;
            se é companheiro, aguarda concurso amigo;
            se é adversário, exige respeito;
            se benfeitor, requer cooperação;
            se malfeitor, demanda piedade;
            se doente, requisita remédio;
            se é dono de razoável saúde, precisa de apoio a fim de que a preserve;
            se ignorante, roga amparo educativo;
            se culto, reivindica estímulo ao trabalho, para desentranhar, a benefício dos semelhantes, os tesouros que acumula na inteligência;
            se é bom, não prescinde de auxílio para fazer-se melhor;
            se é menos bom, espera compaixão, que o integre na divindade da vida.
            Ante o ensino de Jesus, pelo samaritano da caridade, poderemos facilmente entender que os outros necessitam de nós, tanto quanto necessitamos dos outros. E, para atender às nossas obrigações, no socorro mútuo, comecemos, à frente de qualquer um, pelo exercício espontâneo da compreensão e da simpatia.

(Livro: Caminho Espírita. Francisco Cândido Xavier por Emmanuel)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

ENQUANTO BRILHA O AGORA



            Atendei, enquanto é hoje, aos enigmas que vos torturam a mente.
            Enquanto a Lei vos faculta a bênção do agora, extirpai do campo de vossa vida os vermes da inimizade, os pântanos da preguiça, os espinheiros do ódio, a venenosa erva do egoísmo e o pedregulho da indiferença, cultivando, com a segurança possível, a lavoura da educação, as árvores do serviço, as flores da simpatia e os frutos da caridade.
            Enquanto os talentos do mundo vos favorecem, fazei o melhor que puderdes, porque, provavelmente, amanhã... Quem sabe?
            Amanhã, talvez, os problemas aparecerão mais aflitivos.
            Os dias modificados...
            As oportunidades perdidas...
            As provas imprevistas...
            Os ouvidos inertes...
            Os olhos em plena sombra...
            A língua muda...
            As mãos mirradas...
            Os pés sem movimento...
            A cabeça incapaz...
            A carência de tempo...
            A visita da enfermidade...
            A mensagem da morte...
            Despertai as energias mais profundas, enquanto permaneceis nas linhas da experiência física, entesourando o conhecimento e o mérito através do estudo e da ação que vos nobilitem as horas, porque, possivelmente, amanhã, as questões surgirão mais complexas.
            Não nos esqueçamos de que os princípios de correspondência funcionam exatos.
            Sementeira do bem — colheita de felicidade.
            Dever irrepreensivelmente cumprido — ascensão aberta.
            Trabalho ativo — progresso seguro.
            Cooperação espontânea — auxílio pronto.
            Busquemos o melhor para que o melhor nos procure.
            Tendes convosco o solo precioso fecundado pela chuva de bênçãos. Utilizemo-lo, assim, na preparação do grande futuro, recordando a advertência do nosso Divino Mestre: — “Avançai, valorosos, enquanto tendes luz.”

(Livro: Vozes do Grande Além. Francisco Cândido Xavier por Emmanuel)

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

SUPORTAR NOSSA CRUZ



     A cruz do Cristo é a do exemplo e do sacrifício, induzindo-nos à subida espiritual, nos domínios da elevação.
          A nossa, porém, será, sobretudo, nós em nós mesmos.
          Aguentar-nos como temos sido nas múltiplas existências passadas.
          Carregar-nos com as imperfeições e dívidas que inadvertidamente acumulamos; entretanto, agradecendo e abençoando a lixívia de suor e pranto no resgate ou na tribulação com que as extirpamos.
*****
          Em muitos episódios difíceis da existência, consideramos demasiadamente amargo o cálice da prova redentora que se nos destina, mas, de maneira geral, não é a medicação providencial nele contida que nos aflige e sim a nossa própria debilidade em aceitá-la.
          Em numerosas crises do mundo, julgamos excessivamente pesada a carga dos desenganos que nos fustigam o espírito; no entanto, não é o volume das desilusões educativas, que nos são indispensáveis, aquilo que nos faz vergar os ombros da alma e sim o nosso orgulho ferido a se nos esfoguear por dentro do coração.
*****
          Suportar nossa cruz será tolerar as tendências inferiores que ainda nos caracterizam, sem acalentá-las, mas igualmente sem condenar-nos, por isso, diligenciando esgotar em serviço, em paciência, em serenidade e em abnegação a sucata de sombras que ainda transportamos habitualmente no fundo das nossas atividades de autoaprimoramento ou reabilitação.
*****
          Chorar, em muitas ocasiões, mas nunca desesperarmos.
          Errar ainda vezes muitas, no entanto, retificar-nos, em todos os lances da estrada, tantas vezes quantas se fizerem necessárias.
*****
          Reconhecer-nos no espelho da própria consciência, resignar-nos com as nódoas e cicatrizes emocionais da culpa que ainda se nos estampam na face espiritual e acatar no trabalho e no sofrimento a presença de cirurgiões divinos, cujo esforço nos regenerará os tecidos sutis da alma, preparando-nos e instruindo-nos para o Mundo Melhor.
*****
          Suportar nossa cruz jamais será maldizê-la ou lamentá-la e sim acolher-nos imperfeitos como ainda somos, perante Deus, mas procurando, por todos os meios justos, melhorar-nos e burilar-nos, avançando sempre, mesmo que vagarosamente, milímetro por milímetro, nos caminhos de ascensão para a Vida Eterna.

(Livro: Rumo Certo. Francisco Cândido Xavier por Emmanuel)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

PROBLEMAS E JESUS



“Jesus Cristo é o mesmo ontem,
hoje e para sempre.”
(Paulo — Hebreus — 13:8)

          A irritação constante mina qualquer organização física e psíquica, gerando desequilíbrio e alucinação.
          Terapia salutar — a paciência.
*
          A negligência contumaz é fator propiciatório para a permissividade moral e o aturdimento.
          Antídoto eficaz — a ação nos deveres sociais e espirituais.
*
          A queixa proporciona viciação mental de largo porte que neurotiza e dementa.
          Atitude libertadora — o esforço no silêncio e autocrítica honesta.
*
          A agressividade que se cultiva sob eufemismo de nevrose e de sofrimento conduz à loucura e ao crime.
          Tratamento liberativo — exercícios de humildade com insistência na oração.
*
          O inconformismo, traduzindo injustificável rebeldia, é técnica de autodestruição a prazo fixo.
          Solução — coragem na luta de todo dia.
*
          O desassisamento sempre antecede desastres que conduzem de roldão aqueles que vivem estúrdios e frívolos.
          Comportamento salvador — meditação e esforço íntimo no exame e aferição dos valores da vida.
          Problemas existem em todas as criaturas, em todo lugar.
          Viver é um impositivo biológico.
          Viver, porém, com elevação, na busca de equilíbrio é um desafio.
          Ninguém espere, portanto, facilidade para o triunfo.
          A glória fácil é efêmera e deixa funda amargura quando passa.
          O próprio mecanismo da vida no corpo impõe limite, sacrifício, esforço. No que tange às aquisições morais — finalidade superior da vida — mais grave e mais complexo é o desafio.
          Não espere felicidade a “golpe de sorte” ou por herança familial.
          O trabalho é patrimônio para a evolução de todos — meio e meta da vida.
          Você dispõe de inteligência para finalidade superior. Conforme a aplique assim viverá.
          Para cada problema há uma regra própria para alcançar-se a solução.
          Diante dos problemas humanos, porém, Jesus é a resposta de segurança, única, aliás, mediante a qual você conseguirá vitória legítima.

(Livro: Momentos de Decisão. Divaldo Pereira Franco por Marco Prisco)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O OLHAR DE JESUS



Recordemos o olhar compreensivo e amoroso de Jesus, a fim de esquecermos a viciosa preocupação com o argueiro que, por vezes, aparece no campo visual dos nossos irmãos de experiência.
*
    O Mestre Divino jamais se deteve na faixa escura dos companheiros de caminhada humana.
*
    Em Bartimeu, o cego de Jericó, não encontra o homem inutilizado pelas trevas, mas sim o amigo que poderia tornar a ver, restituindo-lhe, desse modo, a visão que passa, de novo, a enriquecer-lhe a existência.
*
    Em Maria de Magdala, não enxerga a mulher possuída pelos gênios da sombra, mas sim a irmã sofredora e, por esse motivo, restaura-lhe a dignidade própria, nela plasmando a beleza espiritual renovada que lhe transmitiria, mais tarde, a mensagem divina da ressurreição.
*
    Em Zacheu, não identifica o expoente da usura ou da apropriação indébita, e sim o missionário do progresso enganado pelos desvarios da posse e, por essa razão, devolve-lhe o raciocínio à administração sábia e justa.
*
    Em Simão Pedro, no dia da negação, não se refere ao cooperador enfraquecido, mas sim ao aprendiz invigilante, a exigir-lhe compreensão e carinho, e por isso transforma-o, com o tempo, no baluarte seguro do Evangelho nascente, operoso e fiel até o martírio e a crucificação.
*
    Em Judas, não surpreende o discípulo ingrato, mas sim o colaborador traído pela própria ilusão e, embora sabendo-o fascinado pelas honrarias terrestres, sacrifica-se, até o fim, aceitando a flagelação e a morte para doar-lhe o amor e o perdão que se estenderiam pelos séculos, soerguendo os vencidos e amparando a justiça das nações.
*
Busquemos algo do olhar de Jesus para nossos olhos e a crítica será definitivamente banida do mundo de nossas consciências, porque, então, teremos atingido o Grande Entendimento que nos fará discernir em cada companheiro do caminho, ainda mesmo quando nos mais inquietantes espinheiros do mal, um irmão nosso, necessitado, antes de tudo, de nosso auxílio e de nossa compaixão.

(Livro: Viajor. Francisco Cândido Xavier por Emmanuel)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

DIANTE DA TERRA


      
  Teríamos sido, porventura, situados na gleba do mundo para fugir de colaborar no progresso do mundo, quando o mundo nos provê com todas as possibilidades necessárias ao progresso de nós mesmos?
*
      Muitos companheiros se marginalizam em descanso indébito, junto à seara, alegando que não suportam os chamados problemas intermináveis do mundo; desejariam a estabilidade e a harmonia por fora, a fim de se mostrarem satisfeitos na Terra, quando a harmonia e a estabilidade devem morar por dentro de nós, de modo a que nossos encargos, à frente do próximo, se façam corretamente cumpridos.
*
        O mundo, em todo tempo, é uma casa em reforma, com a lei da mudança a lhe presidir todos os movimentos, através de metamorfoses e dificuldades educativas.
*
        O progresso é um caminho que avança. Daí, o imperativo de contarmos com oposições e obstáculos toda vez que nos engajamos na edificação da felicidade geral..
        Omissão, no entanto, é parada significando recuo.
        Entendamo-nos na posição de obreiros, sob a pressão de crises renovadoras.
*
        Todos faceamos permanente renovação, a cada passo da vida.
        Nem tudo que tínhamos ontem por certo, nos quadros exteriores da experiência, continua como sendo certo nas horas de hoje. Os ideais e objetivos prosseguem os mesmos, a nos definirem aspiração e trabalho; entretanto, modificaram-se instrumentos e condições, estruturas e circunstâncias.
*
        A Terra, porém, nos pede cooperação no levantamento do bem de todos e a ordem não é deserção e sim adaptação.  Em suma, estamos chamados à vivência no mundo, sem deixarmos de ser nós mesmos, e buscando a frente, mas sem perder o passo de nossos contemporâneos, para que não venhamos a correr o risco de seguir para frente demais.

( Livro: PACIÊNCIA E VIDA. Francisco Cândido Xavier por Emmanuel)

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

ENCOLERIZAS-TE?



 Irrupção aturdente que, à semelhança de lavas vulcânicas, procede do teu âmago, a cólera converte-se em substância fatal.
            Aos poucos, se não te reeducas, essas lavas, em se derramando de ti sobre ti mesmo, conseguem, pouco a pouco, corroer a tua expressão de equilíbrio em processo de construção vagarosa em tua alma.
            Por que te encolerizas pelas avenidas ou pelos guetos terrestres?
            Encolerizas-te, por certo, ao veres-te contestado por alguém que supões te seja inferior. Quem é essa pessoa para opor-se a mim?
            Encolerizas-te, possivelmente, quando, atalhado por alguém que sabes te seja superior em qualquer ângulo dos caminhos. Por que essa pessoa destrata-me ou me desmerece desse modo?
            Encolerizas-te quando não consegues alcançar os objetivos que traçaste, positivos ou negativos. Por que tudo sai errado comigo?
            Encolerizas-te se a condução que esperas não vem ou vem com a lotação completa e não pára para levar-te. Ora, estou há tanto tempo esperando e ela passa direto...
            Encolerizas-te ante a administração mal desenvolvida; perante a política que não te atende; diante de pessoas que não te aceitam.  Encolerizas-te pelo tempo ruim no fim de semana; pela visita indesejada que te impede fazer outro programa; pelo balconista desatento que te atende mal.
            Doença soez, morbo desagregador, a cólera se nutre na vala fétida do orgulho, fazendo-te admitir que és ou que deves ser alguém intocável, embora saibas estar num orbe de provações e de expiações, desde as mais simples às mais inabordáveis, por sua gravidade.
            Detém-te para meditar, porque te estarás matando, engendrando suicídio infeliz por desfalcar as tuas energias vitais, deixando-te espiritualmente depauperado.
            Cada vez que te encolerizas, te assemelhas a uma pessoa em processo de loucura, incontrolável, indomável, vexaminosa.
            Cada vez que te encolerizas, ao te recompores já não te assentarás, psiquicamente, onde estavas antes da alucinação. Ao te acalmares estarás mais desgastado, e, aos poucos, de crise em crise, perturbar-te-ás de morte. Um infarto, um acidente vascular, uma apoplexia, muitas vezes têm raízes nos acessos coléricos que não corrigiste a tempo.
            Renova-te. Faze esforço por te reeducares. Somente o tempo nobremente aproveitado conseguirá conferir-te galardão de emancipação espiritual, com o exercício da calma, da indulgência, do perdão, a fim de que sejas feliz.


(Livro: Revelações da Luz. J. Raul Teixeira por Camilo)

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

PERSEVERANÇA


        
Perseverança é a capacidade de esforço sustentador.
        É a confirmação do “querer é poder”.
        Sem perseverança tudo tende a se desmoronar, a cair de nossas mãos.
        Quando temos um ideal, o primeiro passo é materializá-lo.
        Começar já é meio caminho andado.
Obstáculos, dificuldades, críticas, isto certamente encontraremos pelo frente. Para o verdadeiro idealista, esses empecilhos são desafios que ele se dispõe a vencer, e lhe servem até de estímulo e convite à luta.
        O idealista é um desbravador por excelência; nunca espera que a situação o favoreça, pois ele mesmo faz a situação surgir, não esperando que ela venha ao seu encontro.
        O entusiasmo dos idealistas lhes confere as nobre liderança dos espíritos que vieram para abrir caminho e marchar à frente dos menos ousados e dos ainda incapazes de perceber a necessidade das transformações e inovações necessárias.
        No entanto, cada um de nós traz uma incumbência que terá de ser executada pelo próprio. Ninguém poderá realizar a tarefa de ninguém. Somos responsáveis por todos os nossos atos, que se tornam o resultado natural das nossas ações; e por estas responderemos, queiramos ou não.
        O líder tem a incumbência de mostrar o caminho, mas quanto aos esforços de abri-lo, é tarefa que compete a todos, bem como a energia para percorrê-lo.
        A perseverança em conseguir deverá nascer em cada viajor. Aquele que parar será esquecido, e cairá em aflição, enquanto os demais avançam e se adiantam em qualidades, mantendo a paz de espírito dos que cumpriram bem os seus deveres. Os negligentes não podem acusar ninguém pelos seus infortúnios.
        Se o cansaço se apossar de nós, se nos faltarem as forças, apelemos para Deus, rogando-lhe ajuda, e um cirineu surgirá, ajudando a erguer-nos e nos incentivando a prosseguir.
        Se permanecermos inertes, lamentando-nos, as oportunidades ficarão perdidas, e só nos restará, com pesar, assistir a vitória dos que perseveraram.
        Quereríamos, acaso, tornarmo-nos vítimas, fazendo dos nossos problemas uma carga para outros carregarem sobre os ombros? E o nosso mérito, onde entraria?
        Perseveremos, caros companheiros, em nossa boa disposição de alcançarmos a meta para que viemos, e a paz será conosco.

(Livro: ...A VERDADE E A VIDA, de Cenyra Pinto)

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

PARÁBOLA DO FERMENTO



“O Reino dos Céus é semelhante ao fermento,
que uma mulher tomou e escondeu em
três medidas de farinha, até ficar toda ela levedada.”
(Mateus, XIII, 33 – Lucas, XIII, 20-21.)

          Não há quem ignore o processo da panificação. Lança-se um tanto de fermento na massa de farinha, mistura-se e espera-se que fique toda levedada, para o que muito concorre o calor.
        Aparentemente, quem vê a massa não diz que tem fermento; entretanto, depois de algumas horas, a própria massa levedada acusa a presença do mesmo.
        Assim é o Reino dos Céus: o homem não se pode transformar, de simples e ignorante, em elevado e sábio de um momento para outro, como o levedo não transforma a farinha na mesma hora em que nela é posto.
        Aos poucos, à medida que ouve a voz dos profetas, a palavra dos emissários do Alto, a inteligência do homem se vai esclarecendo e o seu Espírito se transforma: ele assimila o Reino dos Céus, que à prima facie lhe pareceu um enigma, mas depois se lhe apresentou positivo, racional, lógico.
        Quem diria que uma só medida de fermento, em três medidas de farinha, leveda a mesma? É preciso, porém, lembrar que o calor, não só na farinha para o pão, como também no homem, para a transformação de Espíritos, é indispensável. E este calor pode traduzir-se na atividade que empregamos para o progresso que somos chamados a conquistar.

(Livro: Parábolas e Ensinos de Jesus, de Cairbar Schutel)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

JORNADA ACIMA



“O Céu e o Inferno”
1a  Parte, cap. VI, item 13


    Ergue a flama da fé na imortalidade, e caminha!
    Os que desertaram da confiança gritar-te-ão impropérios, entrincheirados na irresponsabilidade que lhes serve de esconderijo.
    Demagogos do desânimo, dirão, apressados, que o mundo nunca se desvencilhará da lei de Caim; que os tigres da inteligência continuarão devorando os cordeiros do trabalho; que a mentira, na História, prosseguirá entronizando criminosos na galeria dos mártires; que a perfídia se anteporá, indefinidamente, à virtude; que a mocidade é carne para canhões e prostíbulos; que as mães amamentam para o sepulcro; que as religiões são fábulas piedosas para consumo de analfabetos; que as tenazes da guerra te constringirão a cabeça, sufocando-te a voz no silêncio do horror... Tentarão, decerto, envolver-te na nuvem do pessimismo, induzindo-te a esquecer o presente e o futuro, na taça de tranquilidade e prazer em que anestesiam o pensamento.
    Contudo, reflete levemente e perceberás que os trânsfugas do dever, acolhidos à negação e infantilizados no medo, simplesmente desfrutam a paz dos entrevados e a alegria dos loucos.
*
    Ora por eles, nossos irmãos que ainda não amadureceram o entendimento para a altura da vida, e segue adiante.
    Na escuridão mais espessa, acende a chama da prece, e, onde todos se sentirem desalentados, fala, sem revolta, a palavra de esperança que desenregele os corações mumificados no desconsolo. Um gesto de bondade sobre a agonia de alguém que oscila, à beira do abismo, e uma gota de bálsamo espremida com amor numa ferida que sangra bastam, muitas vezes, para renovar multidões inteiras.
    Sobretudo, nos mais aflitivos transes da provação, não percas a paciência.
    Não consegues emendar os companheiros desarvorados, mas podes restaurar a ti mesmo.
    Embora contemplando assaltos e violências, ruínas e escombros, avança jornada acima, apagando o mal e fazendo o bem.
    Criatura alguma, na Terra, escapará da grandeza fatal da justiça e da morte; no entanto, sabemos todos que a justiça, por mais dura e terrível, é sempre a resposta da Lei às nossas próprias obras, e que a morte, por mais triste e desconcertante, é sempre o toque de ressurgir.

(Livro: Justiça Divina. Francisco Cândido Xavier por Emmanuel)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

OCIOSIDADE



Sorrateiramente se instala na casa mental, entorpecendo a vontade.
    Disfarça-se de cansaço, sugerindo repouso.
    Justifica-se como necessidade de refazimento de forças, exigindo, cada vez, maior soma de horas.
    Apresenta-se como enfermidade, impondo abandono de tarefas.
    Desculpa-se, em nome da exaustão das energias, que deseja recobrar.
    Reage contra qualquer proposição de atividade que implique no inconveniente esforço.
    A ociosidade é cruel inimigo da criatura humana e fator dissolvente que se insinua nas tarefas do bem, nas comunidades que laboram pelo progresso.
    Após vencer aquele de quem se apossa, espalha o seu ar mefítico, contaminando quantos se acercam da sua vítima, que se transforma em elemento pernicioso, refugiando-se em mecanismos de evasão de responsabilidade sob a condição de abandonado pela fraternidade alheia.
* * *
    O ocioso faz-se ególatra; termina impiedoso.
    Solicita direitos, sem cumprir com os deveres que lhe dizem respeito.
    Parasito social, é hábil na dissimulação dos propósitos infelizes que agasalha.
    Dispõe de tempo para censurar os que trabalham e observa, nos outros refletidas, as imperfeições que de si transfere.
    Sua palavra enreda os incautos, torpedeando os programas que exigem ação.
    Quando não se demora anestesiado, mentalmente, pelos vapores tóxicos que emite e absorve, consegue exibir falsa compostura, atribuindo-se superioridade que está longe de possuir, no ambiente onde se encontra.
    Escolhe serviços e especifica tarefas, que jamais cumpre integralmente, acusando os outros ou escusando-se por impedimentos que urde com habilidade.
    É adorno de aparência agradável, que sugere valor ainda não conseguido.
    Bom palestrante, conselheiral, cômodo, refugia-se na gentileza para atrair simpatias, desde que lhe não seja exigido esforço.
    Sabe usar os recursos alheios e estimula as tendências negativas, insuflando, com referências encomiásticas, o orgulho, a vaidade, a insensatez.
    Na enfermidade de que padece, não se dá conta da inutilidade que o caracteriza.
* * *
    Teresa d'Ávila, atormentada por problemas artríticos e outros, na sua saúde delicada, exauria-se, silenciosa, nas tarefas mais cansativas do Monastério, embora portadora de excelentes dons espirituais.
    Bernadette Soubirous, a célebre vidente de Lourdes, afadigava-se, enferma, nos trabalhos mais vigorosos, até a total impossibilidade de movimentos.
    Allan Kardec, advertido pelo seu médico, Dr. Deméure, então desencarnado, para que poupasse as energias, prosseguiu ativo até o momento da súbita desencarnação.
    E Jesus, que jamais se escusou ao trabalho, são lições que não podem nem devem ser ignoradas.
* * *
    Se não gostas ou não queres trabalhar, sempre encontrarás justificativas para dissimular a ociosidade.
    O progresso de que necessitas, porém, não te desculpará o tempo perdido ou mal empregado.
    Volverás à liça, em condição menos afortunada, sendo-te indispensável o esforço para a sobrevivência.
    Os membros, que se não movimentam na atividade edificante, atrofiam-se, perdem a finalidade, e apenas se recuperarão sob injunções mui dolorosas.
    Oxalá te resguardes da ociosidade.
    Melhor a exaustão decorrente do bem, vivenciado a cada instante, do que a agradável aparência, cuidada e rósea, mediante a exploração do esforço alheio e a nutrição da inutilidade ociosa.

(Livro: Otimismo. Divaldo P. Franco por Joanna de Ângelis)

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

OS DOIS VOLTAIRES



 (Sociedade Espírita de Paris, grupo Faucherand
Médium: Sr. E. Vézy)
 (Revista Espírita, maio de 1862)

Sou eu mesmo, mas não aquele Espírito trocista e cáustico de outrora. O reizinho do século dezoito, que dominava pelo pensamento e pelo gênio a tantos soberanos, hoje não mais tem nos lábios aquele sorriso mordaz, que fazia tremer os inimigos e os próprios amigos! Meu cinismo desapareceu diante da revelação das grandes coisas que eu tinha pretensão de saber, mas que só conheci no além-túmulo!
Pobres cérebros demasiado estreitos para conterem tantas maravilhas! Humanos, calai-vos e humilhai-vos ante o poder supremo! Admirai e contemplai! É o que podeis fazer. Como quereis aprofundar Deus e o seu grande trabalho? Apesar de todos os seus recursos, a vossa razão não se quebra diante do átomo e do grão de areia que ela não pode definir?
Eu empreguei a minha vida a procurar e conhecer Deus e seu princípio. Minha razão se enfraqueceu e eu cheguei ao ponto não de negar Deus, mas a sua glória, o seu poder e a sua grandeza. Eu o explicava desenvolvendo-se no tempo. Uma intuição celeste me dizia que rejeitasse tal erro, mas eu não escutava e me fiz apóstolo de uma doutrina mentirosa... Sabeis por quê? Porque, no tumulto e na confusão de meus pensamentos, num entrechoque incessante, eu só via uma coisa: meu nome gravado no frontão do templo da memória das nações! Eu só via a glória que me prometia essa juventude universal que me cercava e parecia saborear com suave delícia a essência da doutrina que eu lhe ensinava.
Entretanto, empurrado não sei por qual remorso de minha consciência, quis parar, mas era tarde. Como toda utopia, todo sistema que abraçamos nos arrasta. A princípio segue a torrente, depois nos arrasta e nos quebra, tão rápida e violenta é por vezes a sua queda.
Crede-me, vós que aqui estais à procura da verdade, encontrá-la-eis quando tiverdes tirado de vosso coração o amor às lantejoulas, que um tolo amor-próprio e um tolo orgulho fazem brilhar aos vossos olhos.
Na nova via por onde marchais, não temais combater o erro e desafiá-lo, quando se erguer à vossa frente. Não é uma monstruosidade preconizarmos uma mentira, contra a qual ninguém ousa defender-se, pelo fato de saber-se que fizemos discípulos que ultrapassaram as nossas crenças?
Vedes, meus amigos, que o Voltaire de hoje não é mais aquele do século dezoito. Eu sou mais cristão, porque aqui venho fazer-vos esquecer a minha glória e vos lembrar o que eu fui na juventude e o que eu amava em minha infância.
Oh! Como eu gostava de me perder no mundo dos pensamentos! Minha imaginação ardente e viva percorria os vales da Ásia em busca daquele que chamais Redentor... Eu gostava de percorrer os caminhos que ele tinha percorrido. E como me parecia grande e sublime esse Cristo em meio à multidão! Eu acreditava ouvir a sua voz poderosa, instruindo os povos da Galileia, das bordas do Tiberíades e da Judeia!...
Mais tarde, nas minhas noites de insônia, quantas vezes me ergui para abrir uma velha Bíblia e reler suas páginas santas! Então minha fronte se inclinava diante da cruz, esse sinal eterno da redenção, que une a Terra ao Céu, a criatura ao Criador!... Quantas vezes admirei esse poder de Deus, subdividindo-se, por assim dizer, e cuja centelha se encarna para fazer-se tão pequena, vindo entregar a alma no Calvário, em expiação!...vítima augusta cuja divindade eu negava, e que, entretanto, me fez dizer:

                        Teu Deus que tu traíste, teu Deus que tu blasfemas;
                        Para ti, para o Universo, Morreu nesses lugares!

            Sofro, mas expio a resistência que opunha a Deus. Eu tinha a missão de instruir e esclarecer. A princípio o fiz, mas o meu facho se extinguiu nas minhas mãos, na hora marcada para a luz.
            Felizes filhos do século dezenove e do século vinte, a vós é que é dado ver luzir o facho da verdade. Fazei que vossos olhos vejam bem a sua luz, porque para vós ela terá radiações celestes, e sua claridade será divina!

VOLTAIRE

Filhos, deixei que em meu lugar falasse um dos vossos grandes filósofos, principal chefe do erro. Quis que ele viesse dizer-vos onde está a luz. Que vos parece? Todos virão repetir-vos: “Não há sabedoria sem amor nem caridade”. Dizei-me, que doutrina será mais suave para ensinar que o Espiritismo? Nunca seria demasiado repetir-vos que o amor e a caridade são as duas virtudes supremas que unem, como diz Voltaire, a criatura ao Criador. Oh! Que mistério e que laço sublime! Ínfimo verme da Terra, que pode tornar-se tão poderoso que a sua glória atingirá o trono do Eterno!...

SANTO AGOSTINHO

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

PÁGINA AOS PAIS


  
  Por maiores que sejam os compromissos que te prendam a obrigações dilatadas, na esfera dos negócios ou na vida social, consagrarás à família as atenções necessárias.

    Lembrar-te-ás de que o lar não é tão somente refúgio que o arquiteto te planeou, baseando estudos e cálculos nos recursos do solo.

    Encontrarás nele o templo de corações, em que as Leis de Deus te situam transitoriamente o Espírito, a fim de que aprendas as ciências da alma no internato doméstico.

    "Honrarás teu pai e tua mãe..." proclama a Escritura e daí se subentende que precisamos também dignificar nossos filhos.

    Ainda mesmo se eles, depois de adultos, não nos puderem compreender, nada impede venhamos a entendê-los e auxiliá-los, tanto quanto nos seja possível, sem que por isso necessitemos coartar os planos superiores de serviço que nos alimentou o coração.

    Reconhecendo o débito irresgatável para com os teus pais, os benfeitores que te entreteceram no mundo  a felicidade do berço, darás aos teus filhos, com a luz do exemplo  no dever cumprido, a devida oportunidade para a  troca de impressões e de experiências.

    Se ainda não consegues oferta-lhes o culto do Evangelho em casa, asserenando-lhes as perguntas e ansiedades, com os ensinamentos do Cristo, não te esqueças do encontro sistemático em família, pelo menos semanalmente, a fim de atender-lhes as necessidades da alma.

    Detém-te a registrar-lhes as indagações infanto-juvenis, louva-lhes os projetos edificantes e estimula-lhes o ânimo à pratica do bem.

    Não abandones teus filhos à onda perigosa das paixões insofreadas, sob o pretexto de garantir-lhes personalidade e emancipação.

    Ajuda-os e habilita-os espiritualmente para a vida de hoje e de amanhã.

    Sobretudo, não adies o momento de falar-lhes e de ouvi-los, pois a hora da tormenta de provações, na viagem da Terra, se abate, mais dia menos dia, sobre a fronte de cada um, por teste de resistência moral, na obra de melhoria e resgate, elevação e aprimoramento em que nos achamos empenhados.

    Preserve no aviso e na instrução, no carinho e na advertência, enquanto o ensejo te favorece, porquanto, muito dificilmente conseguimos escutar-nos uns aos outros por ocasião de tumulto ou tempestade, e ainda porque ensinar equilíbrio, quando o desequilíbrio já se instalou, significa, na maioria das vezes, trabalho fora do tempo ou auxílio tarde demais.

    (Livro: Família. Francisco Cândido Xavier por Emmanuel)

POSSE

Aquilo de que abrimos mão é o que verdadeiramente nos pertence.   Quem se nega aos outros não tem a posse de si mesmo.   Jesus, sobr...