Nada na Terra pode vencer o homem flexível, pois tudo pode conseguir aquele que não oferece resistência. A propósito, a maioria das coisas muito duras tem grande propensão para quebrar.
Dizem as tradições orientais que a água é o mais poderoso
dos elementos, porque é a excelência no mais alto grau da
"não-resistência”. Ela pode desgastar uma rocha e
arrasar tudo à sua frente. Ao mesmo tempo, quando encontra uma pedra pelo
caminho, não fica irritadiça, contorna os obstáculos; e, se pressionada por
algum motivo, comprime-se o quanto quer.
Não fica lá, parada, censurando, pois não vê nenhuma
vantagem em perder tempo e energia por causa de um incidente natural. A água se
desvia da pedra e segue normalmente seu curso. Por que se estressaria com a
ordem regular das coisas?
As águas de um rio vão para o oceano, para o grandioso. É
para isso que ela está em andamento. Isso é que importa. Os detritos são
entraves característicos do caminho. Se a água combatesse os pedregulhos, as
grandes pedras, árvores submersas, terrenos em declive, ela se consumiria
desnecessariamente e, por consequência, retardaria sua chegada ao mar.
Assim como o curso natural do rio tem como desígnio levar
suas águas para a imensidade do oceano, nós igualmente temos um ministério a
cumprir. Se ficarmos inflexíveis, resistindo e nos envolvendo com cada um dos
pequenos contratempos do cotidiano, isso só vai redundar em impedimento para
cumprimos a tarefa evolutiva de nossa existência.
Os antigos sábios perceberam que, no fato do bem
viver, o que impera é a flexibilidade, tal como faz a água, o melhor
modelo de fluxo da Natureza.
Durante as estações do ano, o que percebemos é seu movimento
contínuo em todas as suas manifestações: rios, lençóis freáticos, lagos, mares,
neve, degelo, nuvens e evaporação.
Se a vida é transformação, variação, ciclo e impermanência,
o que rege a existência humana também são as oscilações sucessivas e flexíveis
que obedecem a uma Ordem Providencial. É bom lembrarmos que as almas mais
fortes são as mais maleáveis, abertas a mudanças e a novas informações.
Somos membros do Universo em contínua evolução e precisamos
aprender a nos adaptar e a nos ajustar a uma visão de mundo passível de
transformação, reciclando pensamentos, crenças e ideias, fazendo novas
interpretações das circunstâncias e das ocorrências do cotidiano. Não devemos
ser homens automatizados. Onde não há liberdade para se questionar, não há
ética.
Nossa alma terá firmeza e vigor diante das intempéries se
conseguirmos manter a mesma flexibilidade do "caniço", prontos a
ceder diante das renovações, reformulando planos, admitindo novas opiniões,
aderindo a convicções baseadas em provas incontestáveis, fazendo associações
prazerosas e estimulantes; angariando, assim, energias que fortalecem e
alimentam o próprio espírito.
"Fluir" não quer dizer somente "passar
por", "deixar-se conduzir", "percorrer distância”,
"circular com rapidez". O fluxo ao qual nos referimos é muito mais do
que isso. Na verdade, falamos da ritmicidade cósmica que comanda o Universo e
que mantém tudo em perfeita ordem.
Não existe o caos. Em todas as coisas reina um ciclo, um
propósito ou trajetória em completa harmonia. Às vezes, temos a impressão de
que a desordem e a confusão mental invadem nosso reino interior, mas, se
olharmos num nível mais profundo, perceberemos que tudo está em plena
concordância. A dureza, a agitação e o tumulto provêm da postura ególatra da
visão humana.
De modo geral, as pessoas resistentes, podem estar sendo
assaltadas por fortes imagens mentais de situações de inflexibilidade vividas
no lar. Quando uma criatura associa um fato recente a uma situação registrada
anteriormente (ainda que não se dê conta disso), seus sentimentos agem
imediatamente como se ela estivesse vivenciando o próprio fato
precedente.
Existe uma ponte entre hábitos e generalização. A existência
humana nada mais é do que uma textura de hábitos. Hábitos do pretérito somados
aos do presente. Evidentemente, nossa forma costumeira de ser, fazer, sentir,
individual ou coletivamente, é produto de nossas vivências associadas às mais
diversas motivações. Elas determinam ao comportamento uma intensidade, uma
direção determinada e uma forma de desenvolvimento individual da
criatura.
MORAL DA HISTÓRIA:
Novas ocorrências requerem novas conclusões. Quando
verificamos nossos equívocos ou mesmo mudamos de ideia sobre algo ou alguém e,
ainda assim, permanecemos inflexíveis e arrogantes diante de uma tomada de
decisão, isso pode ser o caminho certo para atingirmos a infelicidade e as
desditas existenciais.
Não devemos subestimar a voz do coração ou nos julgar
frágeis e fracos por mudarmos nossa maneira de sentir, pensar e agir diante das
coisas. Sem erro não há conhecimento; sem conhecimento não há evolução: e sem
evolução o homem não teria chegado ao estágio em que se encontra.
Cabe a nós, então, encarar os desacertos como parte
integrante do processo evolutivo, como algo a ser repensado. Libertemo-nos das
culpas, das eternas queixas, das comoções de irritação, da agressividade e da
frustração.
Tentar parecer forte, enérgico e decidido perante as
situações que requerem mudança pode nos levar ao que sucedeu com o carvalho.
Quebra "a árvore que enfrenta o vento forte e tenta a
todo custo manter-se em pé; a cana dobra, inclina a fronte" e permanece
ilesa.
(Livro: LA FONTAINE E O COMPORTAMENTO HUMANO. Francisco do Espírito Santo
Neto ditado pelo Espírito Hammed)
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