quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

REPARAÇÃO


        
 Na Terra, muitas vezes, aguardamos a passagem da desencarnação para o ingresso ao paraíso, esquecendo na vizinhança a oportunidade de construir o Céu pela implantação da verdadeira fraternidade.
*
          Em muitas ocasiões, suspiramos pela presença dos anjos recusando os mais ínfimos exercícios de compaixão e bondade, a benefício de outrem.
*
          Habitualmente, rogamos o amparo divino, sem ceder um milímetro de nosso conforto humano e, quase sempre, reclamamos a bênção dos instrutores espirituais cerrando a porta de nossas almas aos que nos suplicam entendimento e perdão.
*
          É imprescindível, porém, recordar que ninguém precisa morrer na carne para ressurgir na atitude.
*
          O sol renascente, cada manhã, ensina-nos, em silêncio, que a vida começa todos os dias e que em todos os dias é possível refazer o destino pela reparação voluntária de nossos próprios erros.
*
          Aprendamos a fazer luz no íntimo de nós mesmos, através do estudo nobre e a corrigir nossos males pelo serviço do bem constante.
*
          Saibamos edificar, segundo o amor claro e simples, e perceberemos, em cada instante, o nosso ensejo de cooperar em favor dos outros.
*
          Dispõe a semelhante mister e não encontrarás no campo em que jornadeias senão companheiros de esperança e de luta, mendigando-te o coração.
          Enxameiam aqui e ali, aflitos e desditosos, ainda mesmo quando se te afigurem dominados de orgulho ou envilecidos na vaidade.
          Não lhe agraves a dor estendendo as sombras que lhes obscurecem as horas.
*
          Foge à reprovação que aniquila, evita o sarcasmo que envenena, esquece a exigência que desfigura e abstém-te da acusação que vergasta...
*
          Lembra-te de que a todos nós cabe o dever do auxílio para que sejamos auxiliados.
*
          E, reparando, incessantemente, o mal que outrem provoque, estarás restaurando o próprio caminho que, limpo e renovado, deixará passar, em teu socorro, a luz do bem eterno, de que ninguém prescinde na ascensão para Deus.

(Livro: Confia e segue. Francisco Cândido Xavier por Emmanuel)

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

DÍVIDA


    
    O credor segura-se no caráter,
para satisfazer sua violência.
(Miramez)

        O credor, quando ganancioso, busca o devedor onde ele estiver, dá escândalo e,  quando não é atendido, fala de moral sem contudo se lembrar que deve ser o primeiro a viver a moral que prega.
        Todos temos dívidas com a economia divina; o suprimento maior nos fornece com abundância e sempre nos esquecemos de receber com parcimônia, sem esperdiçar os bens de Deus, a nós entregues por misericórdia.
        Todos temos talentos, uns acordados, outros em processo de despertamento e outros em estado de sono, por despertar. Compete a nós outros saber usar nossos valores; esse é o recurso divino que cabe a todos nós doar e não emprestar nem vender, por não serem vendáveis, já que não somos donos deles; tudo pertence a Deus.
        A violência, o orgulho e o egoísmo nascem da ignorância. Somente o amor é fruto da vida imortal,  porque quanto mais damos, mais recebemos da própria vida. Se passarmos a compreender a vida de Jesus, a observação nos falará do Seu desprendimento, sendo que Ele tinha tudo o que quisesse ao Seu dispor, por ser consciente de que somente Deus é dono de todas as coisas, Mas, Deus nunca deixa Seus filhos sem o necessário para viver, nos dois planos de vida.
        Se alguém lhe deve, meu irmão, ore por ele; não use de subterfúgios, querendo mostrar vida impoluta, para receber de quem lhe deve. Dê o que puder distribuir a quem precisa, sem participar da usura, cambiando juros para a sua bolsa.
        O egoísmo nos inspira para não ensinarmos aos nossos companheiros, para que eles fiquem ignorantes e não tenham igualdade no saber conosco. Devemos ser instrumentos com Jesus, deixando fluir pelos nossos canais mediúnicos o saber que aprendemos com outros. Se alguém nos ensinou sem exigir tanto de nós,  por que não fazer o mesmo?
        O desprendimento divino, que deve ser assegurado na nossa vida; contudo devemos compreender que desprendimento não é desperdício; é equilíbrio em tudo, por assim dizer, é o amor comandando o coração.
        Quem ainda manifesta nos seus passos a violência, está sendo dominado pelo orgulho, que petrifica a própria consciência. Esqueça, se alguém lhe deve; procure pagar aos que você deve, sem angústia, com agradecimento a quem lhe socorreu nos momentos difíceis.
        Somente limpamos a consciência e o coração da revolta e da tristeza quando aceitamos a vida como Deus nos deu, obedecendo às leis naturais, na naturalidade da criação.

(De “SABEDORIA — A lei de Deus no pensamento dos homens —", de João Nunes Maia, pelo espírito Maria Nunes)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

FONTE OCULTA



                    Na atualidade do mundo, existem medicamentos que alienam  as forças da mente, impelindo-as à prostração, mas não à tranquilidade real.
*
          Os homens de hoje dispõem de máquinas que os auxiliam a ganhar tempo, mas não a calma, diante das provações que se lhes fazem necessárias.
*
          Por outro lado, a fortuna amoedada, quando não dirigida para o trabalho edificante e para as realizações do bem ao próximo, é suscetível de estabelecer inquietações permanentes.
*
          Na mesma ordem de pensamento, a força do poder, apesar das vantagens que é capaz de criar na vida comunitária, quase sempre, é um celeiro de ansiedades e incompreensões.
*
          A paz, por isso, tão ardentemente anelada, é comparável a uma cobertura, entretecida com fragmentos de alegria, como sejam:
          o retorno de uma pessoa querida, ausente desde muito;
          o reajuste do equilíbrio orgânico;
          o satisfação das dívidas pagas;
          o abraço de um amigo;
          uma carta, mensageira de reconforto;
          alguns momentos de convívio com a Natureza;
          a visão do azul no firmamento;
          a presença de uma criança;
          o sorriso de alguém;
          o carinho de um animal que nos partilhe o ambiente;
          os momentos de oração.
*
          A paz que jamais se compra é uma luz anterior que nos clareia o caminho para o encontro do melhor que Deus nos reserva; entretanto, estejamos convencidos de que nas bases da consciência, em que a paz encontra nascedouro, jaz a fonte oculta da paciência.

(Livro: Confia e segue. Francisco Cândido Xavier por Emmanuel)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

SEMEIA E SEMEIA



Ei-los, em esfuziante alegria, permutando sorrisos num festival de juventude, que lhes parece não ter fim. Folgazões, transitam de cidade em cidade espairecendo, caçando prazeres, renovando emoções. Quase esvoaçantes, coloridos, recordam bandos de aves arrulhando nas florestas da vida.
        Embriagados pelo licor da frivolidade passam gárrulos e ligeiros, sem pousos certos, alongando-se pelas estradas vastas das férias intermináveis.
        Ao lado deles trabalham aqueloutros que os invejam e lhes exploram a loucura, quais formigas diligentes que acumulam para si, ceifando a plantação alheia, receosas da escassez hibernal. São gentis a preço de ouro e vendem cortesia,  detestando-os quase, em silêncio, reprochando-lhes o comportamento leviano, sentindo-se magoados por não poderem fazer o mesmo.
        Aqueles vêm para cá buscando o sol e estes saem daqui procurando as temperaturas brandas. Uns sobem as montanhas e outros as descem, agitados, todos, a buscarem nada.
        Perderam a paz íntima e não sabem, talvez não desejem saber.
        Anestesiam-se com a ilusão e fogem da realidade, enlouquecendo paulatina, irreversivelmente.
***
        Dizes que conheces as nascentes da água lustral do bem e da harmonia. Gostaria de ofertá-las, a cântaros cheios, ou abrindo, com as mãos da ternura, sulcos profundos por onde jorrassem filetes a se transformarem em rios de abundância a benefício de todos.
        Eles, porém, os sorridentes e os corteses que defrontas, recusam a tua oferenda.
        Falas sobre o amor e zombam.
        Cantas a verdade e promovem balbúrdia.
        Emocionas-te ante a dor e os irritas.
        Apresentas Jesus e desertam, ansiosos, tentando novas expressões de fuga, desinteressados e belicosos contra ti.
        Não te entristeças ante os panoramas sombrios do momento. Logo mais, na estação própria, haverá luz e cor, reverdecendo a paisagem cinza, florindo-a, perfumando-a.
        Possivelmente, já transitaste em rotas semelhantes e por essa razão sentes o amargor tisnar teus lábios, vendo-os e ouvindo-os, sabendo que este ludíbrio não dura indefinidamente. Eles despertarão sim, como já despertaste para outra realidade que agora te abrasa a vida e dá-te forças para avançar.
***
        Hoje, todos estes estão fugindo de si mesmos. Ontem, porém, quando estavas com eles, fugias também, conduzindo as armas da guerra e do crime, que alguns já têm nas mãos e que outros irão tomá-las com avidez.
        Considera, então, o quanto macerou ao imensurável Rabi, vê-los, assim, sanguinários e irresponsáveis, tendo-O ao lado sem O desejarem, ouvindo-O sem O quererem entender... Longa para o Mestre foi a via dolorosa, enquanto com eles e com nós todos, até hoje, que ainda não O sabemos amar  nem servi-Lo.
        Afeiçoa-te, por tua vez, à lavoura do amor e semeia, conquanto escasseiem ouvidos abertos e mentes acessíveis à semente de luz.
        O Colégio Galileu reuniu apenas doze, ao chamado de Jesus, e não obstante a deserção de um discípulo equivocado, outro foi eleito para o seu lugar, ao tempo em que a palavra de vida eterna se espalhava como pólen fecundo penetrando, desde então, milhões de vidas que se felicitaram com a Verdade, alargando as avenidas da esperança para a Humanidade inteira.
        Assim, semeia e semeia.

(De “Sol de Esperança”. Divaldo P. Franco por Joanna de Ângelis)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

SERVE E CONFIA


       “Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados...”
— PAULO (I Coríntios, 1:9)

       Frequentemente, aparecem os companheiros que se dizem inabilitados para a tarefa que se lhes conferiu.
       Assumiram compromissos de que se afastam nas primeiras dificuldades, alegando incompetência; iniciam empreendimentos de que se retiram, logo surjam certos empeços, declarando-se frágeis para o trabalho a fazer.
       E retardam a execução de serviços que lhes carreariam paz e felicidade sem delonga maior.
*
       Se te sentes na órbita de semelhante problema, persevera no dever que abraçaste e não temas.
       As Leis Divinas jamais falham.
       A Natureza não espera frutos de laranjeira nascente.
       A Vida não senta a criança na cátedra do professor.
       Se repontam horas de crise nos encargos que te competem, mantém-te firme no lugar de trabalho em que o mundo te colocou e cultiva a certeza de que não te faltará auxílio para a concretização do bem a que te dedicas.
       Rememoremos as palavras do Apóstolo Paulo, quando nos assevera: “Fiel é Deus pelo qual fostes chamados”, conscientizando-nos de que Deus não nos deixará tentar empresa alguma, acima das forças de que possamos dispor. Com semelhante dedução, prossigamos nas tarefas em que fomos engajados, com vistas ao bem de todos, agindo e aprendendo, trabalhando e servindo, ante a bênção de Deus.

(De “Ceifa de Luz”, de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

MEDICAÇÃO ESPIRITUAL



           Tristeza e desânimo?
Trabalhe reconfortando aqueles que experimentam provações maiores do que as nossas.
          Desafios e problemas?
Trabalhe e espere.
          Indiferença ou desprezo de alguém.
Trabalhe e olvide.
          Ódio sobre os seus dias?
Trabalhe estendendo o bem.
          Desarmonia e discórdia?
Trabalhe pacificando.
          Incompreensão e ignorância?
Trabalhe e abençoe.
          Reprovação e crítica?
Trabalhe melhorando as suas tarefas.
          Contratempos e desilusões?
Trabalhe e renove-se.
          Tentações e quedas?
Trabalhe e afaste-se.
          Crueldade e violência?
Trabalhe e desculpe.
          Em todos os obstáculos da existência, procure agir e servir, ore e perdoe sempre.
          Conserve a certeza de que a base de toda e qualquer medicação espiritual para saúde e reequilíbrio será sempre: trabalhar.

(De “Endereços da Paz”, de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito André Luiz)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

CANÇÃO PARA JESUS



Desejava, Jesus,

Ter um grande armazém

De bondade constante,

Maior do que os maiores que conheço

Para entregar sem preço

Às criaturas de qualquer idade

As encomendas de felicidade,

Sem perguntar a quem.

  
Eu desejava ter um braço mágico

Que afagasse os doentes

Sem qualquer distinção

E um lar onde coubessem

Todas as criancinhas

Para que não sentissem solidão.

  
Desejava, Senhor,

Todo um parque de amor

Com flores que cantassem,

Embalando os pequeninos

Que se encontram no leito

Sem poderem sair,

E uma loja de esperança

Para todas as mães.

  
Eu queria ter comigo

Uma estrela em cuja luz

Nunca pudesse ver

Os defeitos do próximo

E dispor de uma fonte cristalina

De água suave e doce

Que pudesse apagar

Toda palavra que não fosse

Vida e felicidade.

  
Eu queria plantar

Um jardim de união

Junto de cada moradia

Para que as criaturas se inspirassem

No perfume da paz e da alegria.

  
Eu queria, Jesus,

Ter os teus olhos

Retratados nos meus

A fim de achar nos outros,

Nos outros que me cercam,

Filhos de Deus

E meus irmãos que devo compreender e respeitar.

  
Desejava, Senhor, que a bênção do Natal

Estivesse entre nós, dia por dia,

E queria ter sido

Uma gota de orvalho

Na noite em que nasceste

A refletir,

Na pequenez de minha condição,

A luz que vinha da canção

Entoada nos Céus:

- Glória a Deus nas Alturas,

Paz na Terra,

Boa Vontade em tudo,

Agora e para sempre!...


(Francisco Cândido Xavier por Meimei. In:  Os Dois Maiores Amores)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

TEU LUGAR



        Surgem lances obscuros na existência, nos quais aflições dispensáveis nos visitam o espírito, no pressuposto de que nos achamos fora do plano que nos é próprio.
        Quiséramos impensadamente exercer a função de outrem e, ao mesmo tempo, solicitar que outrem se encarregue da nossa.
        Isso, porém, seria tumultuar a Ordem Divina.
        Não ignoramos que os Emissários do Senhor nos conhecem de sobra aptidões e recursos. Assim como ocorre aos engenheiros responsáveis por edificação determinada, que não instalariam o cimento em lugar do vidro, os Organizadores da Vida não nos designariam posição estranha às nossas possibilidades de rendimento maior na construção do Reino de Deus.
        Dentro do assunto, não nos será lícito esquecer que a promoção é ocorrência natural e eleva-nos de nível, mas promoção realmente aparece tão-só quando nos melhoramos conquistando degraus acima.
        A rigor, porém, urge reconhecer que nos achamos agora precisamente no ponto e no posto em que nos é possível produzir mais e melhor. A certeza disso nos fortalece a noção de responsabilidade, porquanto, cientes de que a Eterna Sabedoria nos permitiu desempenhar os encargos pelos quais respondemos perante os outros, podemos centralizar atenção e força, onde estivermos, para doar o máximo de nós mesmos, na máquina social de que somos peças.
        Quando te ocorrer o pensamento de que deverias ocupar outro ângulo no campo da atividade terrestre, asserena o coração e continua fiel aos deveres que as circunstâncias te preceituem, reconhecendo que, em cada dia, estamos na posição em que a Bondade de Deus conta conosco para o bem geral. Desse modo, para que as tuas horas se enriqueçam de paz eficiência, no setor de ação que te cabe na Obra do Senhor, se trazes a consciência tranquila no desempenho das próprias obrigações, é forçoso de capacites de que és hoje o que és e te vês como te vês, no quadro em que te movimentas e na apresentação com que te singularizas, porque é justamente como és, com quem estás no lugar no lugar em que te situas e claramente como te encontras, que o Senhor necessita de ti.

(De “Alma e Coração”, de Francisco Cândido Xavier por Emmanuel)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O DIA COMEÇA AO AMANHECER


      
Compadece-te da criança que segue ao teu lado.
*
       O dia começa ao amanhecer...
       Pai, mãe, irmão ou amigo, ampara-lhe a vida com o teu próprio coração, se pretendes alcançar a Terra Melhor.
*
       Lembra-te das vozes amigas que te induziram ao bem, das mãos que te guiaram para o trabalho e para o conhecimento.
*
       Por que não amparar, ainda hoje, aqueles que serão, amanhã, os orientadores do mundo?
*
       Em pleno santuário da natureza, quantas árvores generosas são asfixiadas no berço? Quanta colheita prematuramente morta pelos vermes da crueldade?
       A vida é também um campo divino, onde a instância é a germinação da Humanidade.
*
       Já meditaste nas esperanças aniquiladas ao alvorecer? Já refletiste nas flores estranguladas pelas pedras do sofrimento, ante o sublime esplendor da aurora?
       Provavelmente dirás: “Como impedirei o sofrimento de milhares?”
       Ninguém te pede, porém, para que te convertas num salvador apressado, carregado de ouro e poder.
       Basta que abras o coração com a chave da bondade, em favor dos meninos de agora, para que os homens do futuro te bendigam.
*
       Quando a escola estiver brilhando em todas as regiões e quando cada lar de uma cidade puder acolher uma criança perdida — ninho abençoado a descerrar-se, aconchegante, para a ave estrangeira — teremos realmente alcançado, com Jesus, o trabalho fundamental da construção do Reino de Deus.

(Livro: “Caridade”. Francisco Cândido Xavier por Meimei)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A FORÇA DA COMPREENSÃO



   Um brinquedo de Jonas havia desaparecido. Irritado, suspeitando que seu irmão Lucas, de apenas três anos de idade, era o culpado, gritou:

    — Lucas, devolva meu carrinho vermelho novo.

    — Não sei onde está. Não peguei seu carrinho — respondeu o pequeno.

    — Pegou sim. Diga onde você o escondeu, Lucas!

    Mas o garotinho repetia, batendo o pé no chão e chorando:

    — Não peguei, não peguei, não peguei.

    Ao ver a confusão armada e Lucas em prantos, a mãe pega o pequeno no colo e diz ao filho mais velho:

    — Jonas, meu filho, você já tem onze anos e não pode ficar brigando com seu irmãozinho. Se Lucas disse que não pegou, acredite. Procure direito e acabará encontrando seu brinquedo.

    Bufando de raiva, Jonas sai da sala e começa a procurar o carrinho. Procurou no quarto de dormir, no quintal, na varanda, na sala e até no banheiro. Nada de encontrar seu brinquedo preferido.

    Sem saber mais onde buscar, Jonas entrou no escritório e, olhando para a estante de livros do seu pai, pensou: Só pode estar aí!

    Retirou todos os livros da estante.

    Quando o pai chegou, ao entardecer, levou um susto. Encontrou Jonas perdido no meio dos livros, desanimado. 

    — O que aconteceu, meu filho? — perguntou, espantado.

    — Estava procurando meu carrinho, papai.

    — No meio dos meus livros? E você o achou?

    — Não, papai.

    — Bem. Então, agora coloque os livros no lugar.

    — Mas, papai! Estou cansado! — reclamou o garoto, fazendo uma careta.

    Com muita paciência, o pai considerou:

    — Jonas, foi você que fez essa bagunça. Logo, é você que deve arrumar tudo, colocando os livros no lugar! Pode começar já, caso contrário não terminará até a hora de dormir.

    Eles não viram que o pequeno Lucas tinha entrado, se escondido atrás da mesa, e ouvia a conversa.

    Assim que o pai saiu da sala, Lucas se prontificou com seu jeitinho:

    — Quer ajuda, Jonas?

    Com uma grande pilha de livros nos braços, que mal podia carregar, o irmão respondeu mal-humorado:

    — Você?! Saia daqui, pirralho! Você não tem força para levar livros tão pesados. Agora me deixe trabalhar!

    Não demorou muito, Jonas estava exausto. Resolveu parar um pouco para descansar e tomar um lanche, mas estava tão cansado que se sentou no sofá da sala, diante da televisão, e acabou cochilando.

    Ao acordar, levou um susto!

    "Meu Deus! Eu adormeci e não acabei de arrumar os livros do papai!"

    Correu para o escritório e teve uma grande surpresa.

    Parecia um milagre! Apesar de um pouco desalinhados, os livros estavam todos no lugar!

    — Quem terá feito isso? — perguntou baixinho, sem poder acreditar.

    Uma voz alegre e cristalina respondeu:

    — Fui eu!

    Era Lucas, satisfeito com seu serviço, carregando o último livro.

    — Como você conseguiu fazer isso, Lucas? Eles são muito pesados! Como pôde carregar uma pilha de livros?

    — Ora, não carreguei uma pilha de livros. Levei um por um!

    Jonas fitou o irmão, admirado do trabalho que ele tinha realizado. Compreendeu que menosprezara a ajuda do pequeno Lucas julgando-o incapaz. No entanto, o irmãozinho provara que podia realizar aquela tarefa. Certamente, não conseguiria levar um peso grande, mas tinha usado a cabecinha e transportado os livros aos poucos.

    Jonas aproximou-se do irmão e abraçou-o com carinho.

    — Lucas, hoje você me mostrou que sempre podemos realizar aquilo que desejamos. Basta que tenhamos boa vontade e criatividade. Obrigado, irmãozinho.

    Os pais, que passavam naquele momento e pararam para observar a cena, também ficaram satisfeitos ao ver os irmãos abraçados e em paz.

    Sorridente, a mãe considerou:

    — Para que a lição seja completa ainda falta uma coisa, Jonas. Lembra-se do seu carrinho vermelho? Pois eu o encontrei, meu filho. Estava no meio das suas roupas, no armário.

    Corando de vergonha, Jonas virou-se para o irmão e disse:

    — Lucas, nem sei como me desculpar pela maneira como agi. Por duas vezes hoje eu o julguei mal e errei. Além disso, você mostrou que é pequeno no tamanho, mas que tem um grande coração. Apesar de ter sido maltratado por mim, suportado o meu mau humor, minha irritação, esqueceu tudo e, quando viu que eu estava em apuros, ajudou-me com alegria, realizando uma tarefa que era minha. Você pode me perdoar?

    O pequeno abraçou Jonas com um largo sorriso:

    — Claro! Você me leva para passear amanhã?

    Todos riram, satisfeitos por fazerem parte de uma família que tinha problemas como qualquer outra, mas que acima de tudo era feliz, porque existia compreensão, generosidade e amor entre todos.

(autora: Celia Xavier de Camargo - 
http://www.forumespirita.net/fe/espiritismo-jovens/a-forca-da-compreensao/)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

JUSTIÇA E AMOR


     
 Todos os valores da vida pedem extensão e rendimento para atenderem ao Eterno Equilíbrio nas bases do Universo.
*
       Se o ouro reclama aplicação justa, também o conhecimento elevado exige substância e proveito.
       Se o primeiro, acumulado inutilmente, gera a cobiça que detém a cabeça do avaro no desvario da posse efêmera, o segundo, guardado sem ação nas obras edificantes, cria a vaidade que mergulha o coração orgulhoso nas trevas de espírito.
*
       Não basta compreendas o estatuto que nos rege os destinos para que te harmonizes contigo mesmo.
*
É necessário transfundas o próprio entendimento em serviço aos semelhantes, para que a flama do cérebro se te faça luz no caminho.
*
       Não te demorarás, estudando a ficha do irmão que sofre, aferindo-lhe os méritos e deméritos para expressares depois a bondade que teorizas.
*
       Antes de tudo recorda que, se o próximo experimenta provação e amargura por determinação da Excelsa Justiça, a tela de angústia em que o próximo se debate se te descerra aos olhos do mundo, por determinação do Divino Amor, a fim de que exercites a piedade e a cooperação, o socorro fraterno e a solidariedade espontânea.
*
       Não olvides que alma alguma, enquanto na vestimenta da carne, poderá conhecer o integral conteúdo das próprias dívidas e auxilia aos outros quando puderes, embora saibas que o prodígio da redenção compulsória é plenamente impossível, de vez que amanhã chegará igualmente o teu dia de acerto maior na Contabilidade Divina.
*
       Não desistas de amparar, através do bem, porquanto se o progresso e a felicidade na Terra solicitassem apenas a penetração no conhecimento da Lei e no simples entendimento de nossas culpas, decerto Jesus não se abalançaria a estender amorosas mãos entre os homens, suportando-nos a ignorância, os débitos e fraquezas, até o ponto de imolar-se na cruz, bastando para isso, nos enviasse as Boas Novas de Redenção, em cartazes de propaganda, dependurados no Céu.

(De “Confia e segue”, de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O SONHO DA ESPERANÇA


    
    Clarindo era um menino para quem as dificuldades da vida chegaram cedo. Desde tenra idade viu-se, por contingências alheias à sua vontade, obrigado a lutar pela própria sobrevivência.
    Morava numa pequena casa nos arrabaldes da cidade que, embora humilde, era um verdadeiro lar, pois ali existia o amor e a paz.
    Quando seu pai desencarnou, vitimado por um acidente de trabalho, tudo mudou na vida de Clarindo.
    Não contando mais com a presença e o amparo do pai, que trazia sempre o necessário para o sustento da família, a situação tornou-se muito difícil. Sua mãe foi obrigada a deixar o lar para trabalhar numa casa rica, e ele, Clarindo, também resolveu trabalhar de engraxate para ajudar nas despesas.
    Como não tivessem com que pagar o aluguel da pequena casa, eles foram obrigados a mudar para uma favela, onde a generosidade de alguém lhes conseguiu um barraco.
    Ao chegar na favela, o ambiente diferente e hostil causou infinita tristeza e angústia à pobre mulher que, intimamente, entrou a conversar com Deus:
     “Oh! Senhor, o que será de meu filho? Obrigado a crescer neste ambiente, a conviver com criaturas de baixo nível moral, poderá vir a se tornar um delinquente! Ajuda-me! Sinto-me tão sozinha desde que meu querido esposo morreu! Mas, confio no Senhor e sei que não me deixarás ao desamparo”.
    Naquela noite, já instalados na favela, a mãe adormeceu chorando escondida para que o filho não percebesse suas lágrimas de tristeza e dor.
    No dia seguinte, logo que os primeiros raios de sol invadiram o pequeno e miserável barraco pelas frestas da parede, a mãe levantou-se para preparar o café da manhã. Leite não tinha. Nem café. Só um pouco de chá e um pedaço de pão duro.      
    Clarindo acordou bem disposto. Percebeu pelo rosto da mãe, inchado de tanto chorar, que ela estava sofrendo bastante.
    Satisfeito e sorridente o menino contou:
    — Mãe, eu tive um lindo sonho esta noite.
    Procurando demonstrar interesse, ela pediu:
    — Conte-me, meu filho. Que lindo sonho foi esse?
    — Sonhei que estava num lugar muito bonito, todo cheio de flores luminosas, quando vi meu pai que se aproximava. Abraçou-me com carinho e disse-me que tivesse confiança em Deus.
    “Sabe, meu filho — disse ele —, nada acontece por acaso. Numa outra existência você e sua mãe, por ambição, prejudicaram muito um seu irmão. Vocês roubaram tudo o que ele tinha e o deixaram na rua da amargura. Sem um lar, maltrapilho, seu irmão vagou por longo tempo vivendo da piedade alheia, até que ficou doente e morreu. É por isso que agora estão passando por tantas dificuldades. Confiem em Deus e suportem as privações com resignação, pois será a libertação de vocês. O Senhor é muito bom e não deixará de assisti-los”.
    Surpresa e muito comovida, a mãe de Clarindo deixou que as lágrimas corressem pelo seu rosto. E o garoto, também com os olhos úmidos da emoção que ainda sentia, continuou:
    — Engraçado, mãe, é que, enquanto meu pai falava, eu via as cenas que ele descrevia como se fosse um filme. E sabe o que mais? Eu senti que meu pai era aquele irmão que nós prejudicamos! Será que é verdade?
    A mãe olhou o filho com carinho e, comovida, falou:
    — Meu filho, esta é a resposta de Deus às minhas preces. Atendeu às minhas íntimas indagações através do sonho de uma criança. Sim, Clarindo. Acredito que tudo isso seja verdade. Devemos ter prejudicado muito alguém para que estejamos agora passando por essa provação.
    Limpando as lágrimas, fitou o filho com determinação e coragem, e disse-lhe resoluta:
    — Vamos vencer, meu filho. Tenhamos bom-ânimo, coragem e muita fé em Deus que é pai e, tenho certeza, não nos deixará ao desamparo.
    Clarindo sorriu feliz ao perceber que sua mãe estava mais contente e conformada.
    Nesse instante alguém bate à porta. Clarindo vai atender e se depara com uma mulher pobremente vestida, mas com largo sorriso no rosto simpático. Disse a visitante:
    — Olá! Sou Cecília, sua vizinha aqui do lado. Como vocês se mudaram ontem e não tiveram tempo de ajeitar as coisas, trouxe-lhes um pão quentinho que acabou de sair do forno, e uma garrafa com café.
    Antes que a mãe de Clarindo tivesse tempo de agradecer a bondade da vizinha, eles viram chegar uma menina franzina, de dez anos mais ou menos, que lhe estendeu uma pequena lata com linda flor plantada:
    — Tome, é para a senhora. Fui eu que plantei.
    Logo em seguida, surgiu na porta o rosto moreno de um homem que lhe perguntou, sorridente:
    — A senhora gosta de chuchu? Trouxe-lhe alguns que colhi agora mesmo no meu quintal.
    Sentindo um nó na garganta, e sob forte emoção, a mãe de Clarindo abraçou os estranhos que lhe invadiam a casa como um raio de sol, enquanto pensava que tinha julgado mal as pessoas da favela, e compreendeu que todos os lugares e todas as pessoas são de Deus. Que, em qualquer situação a que formos chamados a viver, encontramos pessoas boas e podemos crescer e evoluir.
    E, agradecendo ao Alto as bênçãos do momento, exclamou, sorridente:
    — Obrigada. Sejam bem-vindos! Foi Jesus que os enviou!
                                            
(Fonte: O Consolador - Revista Semanal de Divulgação Espírita - Autora: Célia Xavier Camargo. http://escolinhaespirita.blogspot.com.br/2011/03/o-sonho-da-esperanca.html)

VÓS, QUE DIZEIS?

“E perguntou-lhes: E vós, quem dizeis que eu sou?” (Lucas, 9:20)   Nas discussões propriamente do mundo, existirão sempre escrit...