sexta-feira, 28 de setembro de 2012

DIFICULDADES


     
  É possível hajas despertado para a nova fé, sob enormes dificuldades.
        Guardas, talvez, a impressão de quem se vê defrontado por asfixia num cipoal...
        A primeira atitude, em favor da própria libertação — não te fixares nas crises e nos entraves e sim sair deles honrosamente pela aplicação ao trabalho nobilitante.
        A Divina Sabedoria nos confere o benefício da prova, para que venhamos a superá-la e assimilá-la, em forma de experiência, nunca no objetivo de confundir-nos ou arrojar-nos ao desalento.
        Se te encontras doente, reflete na lição que te é concedida, valendo-te dela para edificar espiritualmente nos irmãos que te assistem e, sob a desculpa de que sofres mais que os outros ou de que tens pouco tempo de vida, não te demandes em excessos ou irritações.
        Se te observas em pauperismo, não incrimines a ninguém pela estado de carência que atravessas, nem te revoltes contra as vantagens que favorecem os outros, mas sim, ergue-te, em espírito, e, quanto possível, esforça-te para que a diligência no desempenho das próprias obrigações te faculte novas perspectivas de reabilitação e progresso.
        Aceita o concurso alheio, que todos nós precisamos do entendimento e do amparo uns dos outros, no entanto, desenvolve os teus próprios recursos.
        Não creia que possas desfrutar, em caráter permanente, de benefícios que não plantaste.
        A luz de um amigo clarear-te-á o caminho, por algum tempo, entretanto, se queres sobrepor-te definitivamente ao domínio da sombra, é forçoso possuas a tua própria lâmpada.
        Obstáculos são desafios renovadores.
        Ouvi-los e aproveitá-los é obrigação que a vida nos atribui.

(Livro: No Portal da Luz;  Francisco Cândido Xavier por  Emmanuel) 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O CORVO E A RAPOSA



O CORVO E A RAPOSA
(Revista Espírita, outubro de 1862)

(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS, 8 DE AGOSTO DE 1862)
(MÉDIUM: SR. LEYMARIE)

Desconfiai dos aduladores. É a raça mentirosa. São encarnações de duas caras, que riem para enganar. Infeliz de quem os escuta e neles acredita, pois as noções do verdadeiro nele logo se pervertem. Entretanto, quanta gente se deixa levar por esse engodo mentiroso da adulação! Escutam com satisfação o velhaco que elogia as suas fraquezas, enquanto repelem o amigo sincero que lhes diz a verdade e lhes dá bons conselhos; atraem o falso amigo e afastam o verdadeiro e desinteressado. Para agradá-los é preciso adular, aprovar tudo, tudo aplaudir e achar tudo bom, mesmo o absurdo. E - coisa estranha! - repelem conselhos sensatos e acreditam na mentira do primeiro que vier, desde que essa mentira lisonjeie as suas ideias. Que quereis? Eles querem ser enganados e o são. Muitas vezes tardiamente percebem as consequências, mas então já está feito o mal, e às vezes ele não tem remédio.
De onde vem isso? A causa desse problema é quase sempre múltipla. A primeira, sem contestação, é o orgulho que os cega quanto à infalibilidade de seu próprio mérito, que julgam superior ao dos demais. Assim, sem dificuldade o tomam como modelo do senso comum. A segunda é devida a uma falta de senso, que lhes não permite vejam o lado certo e o errado das coisas, mas nisto ainda está o orgulho, que oblitera o julgamento, porque, sem orgulho, desconfiariam de si mesmos e se aconselhariam com os que têm mais experiência.
Acreditai, ainda, que os maus Espíritos não estão alheios ao caso. Eles gostam de mistificar e de fazer armadilhas. Quem nelas cairá mais facilmente do que os orgulhosos que são adulados? O orgulho é para eles a falta de couraça de uns, assim como a cupidez é de outros. Eles sabem habilmente disso tirar partido, mas não deixam de dirigir-se aos que, do ponto de vista moral, são mais fortes.
Quereis subtrair-vos à influência dos maus Espíritos? Subi, subi tão alto em virtude que eles não vos possam atingir, e então, vós é que sereis temidos por eles. Mas, se vos deixardes arrastar pela ponta da corda, eles subirão nela para vos forçar a descida; chamar-vos-ão com voz melosa, elogiarão vossa plumagem, e, a exemplo do corvo, deixareis cair o queijo.

SONNET

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

ARTIGO - Revista Espírita



AS TRÊS CAUSAS PRINCIPAIS DAS DOENÇAS

(Revista Espírita, fevereiro de 1867 - Dissertações espíritas)

(Paris, 25 de outubro de 1866 - Médium, Sr. Desliens)

O que é o homem?... Um composto de três princípios essenciais: o espírito, o perispírito e o corpo. A ausência de qualquer um destes três princípios acarretaria necessariamente o aniquilamento do ser no estado humano. Se o corpo não mais existir, haverá o Espírito e não mais o homem; se o perispírito falta ou não pode funcionar, não podendo o imaterial agir diretamente sobre a matéria, encontrando-se assim impossibilitado de manifestar-se, poderá haver alguma coisa do gênero do cretino ou do idiota, mas não haverá jamais um ser inteligente. Enfim, se o espírito faltar, ter-se-á um feto vivendo vida animal e não um Espírito encarnado. Se, pois, temos a presença de três princípios, esses três princípios devem reagir um sobre o outro, e seguir-se-á a saúde ou a doença, conforme haja entre eles harmonia perfeita ou desarmonia parcial.
Se a doença ou desordem orgânica, como queiram chamar, procede do corpo, os medicamentos materiais sabiamente empregados bastarão para restabelecer a harmonia geral.
Se a perturbação vem do perispírito, se é uma modificação do princípio fluídico que o compõe, que se acha alterado, será necessária uma medicação adequada à natureza do órgão perturbado, para que as funções possam retomar seu estado normal. Se a doença procede do Espírito não poderíamos empregar, para combatê-la, outra coisa senão uma medicação espiritual. Se, enfim, - como é o caso mais geral, e, podemos mesmo dizer, o caso que se apresenta exclusivamente, - se a doença procede do corpo, do perispírito e do espírito, será preciso que a medicação combata simultaneamente todas as causas da desordem por meios diversos, para obtermos a cura.
Ora, o que fazem geralmente os médicos? Eles cuidam do corpo e o curam; mas curam a doença? Não. Por quê? Porque sendo o perispírito um princípio superior à matéria propriamente dita, poderá tornar-se a causa em relação a esta, e se for entravado, os órgãos materiais que se acham em relação com ele serão igualmente atingidos na sua vitalidade. Cuidando do corpo, destruís o efeito; mas, residindo a causa no perispírito, a doença voltará novamente, quando cessarem os cuidados, até que se perceba que é preciso levar alhures a atenção, cuidando fluidicamente o princípio fluídico mórbido. Se, enfim, a doença proceder da mente, do espírito, o perispírito e o corpo, postos sob sua dependência, serão entravados em suas funções, e não é cuidando de um nem do outro que se fará desaparecer a causa.
Não é, pois, vestindo a camisa de força num louco ou lhe dando pílulas ou duchas que conseguirão restituir-lhe o estado normal. Apenas acalmarão seus sentidos revoltados; acalmarão os seus acessos, mas não destruirão o germe senão o combatendo por seus semelhantes, fazendo homeopatia, espiritual e fluidicamente, como fazem materialmente, dando ao doente, pela prece, uma dose infinitesimal de paciência, de calma, de resignação, conforme o caso, como se lhe dá uma dose infinitesimal de brucina, de digitális ou de acônito.
Para destruir uma causa mórbida, há que combatê-la em seu terreno.

DR. MOREL LAVALLÉE

terça-feira, 25 de setembro de 2012

HISTÓRICO DO ESPIRITISMO


                                                                 (O Espiritismo em sua mais simples expressão)


Por volta de 1848, chamou-se a atenção, nos Estados Unidos da América, para diversos fenômenos estranhos que consistiam em ruídos, batidas e movimento de objetos sem causa conhecida. Esses fenômenos aconteciam com frequência, espontaneamente, com uma intensidade e persistência singulares; mas notou-se também que ocorriam particularmente sob a influência de certas pessoas, às quais se deu o nome de médiuns, que podiam de certa forma provocá-los à vontade, o que permitiu repetir as experiências. Para isso, usaram-se sobretudo mesas; não que este objeto seja mais favorável que um outro, mas somente porque ele é móvel é mais cômodo, e porque é mais fácil e natural sentar-se em volta de uma mesa que de qualquer outro móvel. Obteve-se dessa forma a rotação da mesa, depois movimentos em todos os sentidos, saltos, reversões, flutuações, golpes dados com violência, etc. O fenômeno foi designado, a princípio, com o nome de mesas girantes ou dança das mesas.
Até então, o fenômeno podia explicar-se perfeitamente por uma corrente elétrica ou magnética, ou pela ação de um fluído desconhecido, e esta foi aliás a primeira opinião formada. Mas não se demorou a reconhecer, nesses fenômenos, efeitos inteligentes; assim, o movimento obedecia à vontade; a mesa ia para a direita ou para a esquerda, em direção a uma pessoa designada, ficava sobre um ou dois pés sob comando, batia no chão o número de vezes pedido, batia regularmente, etc. Ficou então evidente que a causa não era puramente física e, a partir do axioma: Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente, concluiu-se que a causa desse fenômeno devia ser uma inteligência.
Qual era a natureza dessa inteligência? Essa era a questão. A primeira idéia foi que podia ser um reflexo da inteligência do médium ou dos assistentes, mas a experiência demonstrou logo a impossibilidade disso, porque se obtiveram coisas completamente fora do pensamento e dos conhecimentos das pessoas presentes, e até em contradição com suas ideias, vontade e desejo; ela só podia, então, pertencer a um ser invisível. O meio de certificar-se era bem simples: bastava iniciar uma conversa com essa entidade, o que foi feito por meio de um número convencional de batidas significando sim ou não, ou designando as letras do alfabeto; obtiveram-se, dessa forma, respostas para as diversas questões que se lhe dirigiam. O fenômeno foi designado pelo nome de mesas falantes. Todos os seres que se comunicaram dessa forma, interrogados sobre sua natureza, declararam ser Espíritos e pertencer ao mundo invisível. Como se tratava de efeitos produzidos em um grande número de localidades, pela intervenção de pessoas diferentes, e observados por homens muito sérios e esclarecidos, não era possível que fossem joguete de uma ilusão.
Da América, esse fenômeno passou para a França e o resto da Europa onde, durante alguns anos, as mesas girantes e falantes foram a moda e se tornaram o divertimento dos salões; depois, quando as pessoas se cansaram, deixaram-nas de lado para passar a outra distração.
O fenômeno não tardou a se apresentar sob um novo aspecto, que o fez sair do domínio da simples curiosidade. Os limites deste resumo, não nos permitem segui-lo em todas as suas fases; nós passamos, sem transição, ao que ele oferece de mais característico, ao que fixa sobretudo a atenção das pessoas sérias.
Dizemos, inicialmente, que a realidade do fenômeno encontrou numerosos contraditores; uns, sem levar em conta o desinteresse e a honradez dos experimentadores, não viram mais que hábil jogo de escamoteação. Os que não admitem nada fora da matéria, que só acreditam no mundo visível, que acham que tudo morre com o corpo, os materialistas, em uma palavra; os que se qualificam de espíritos fortes, rejeitaram a existência dos Espíritos invisíveis para o campo das fábulas absurdas; tacharam de loucos os que levavam a coisa a sério, e os cumularam de sarcasmos e zombarias. Outros, não podendo negar os fatos, e sob o império de certas ideias, atribuíram esses fenômenos à influência exclusiva do diabo e procuraram, por esse meio, assustar os tímidos. Mas hoje o medo do diabo perdeu singularmente seu prestígio; falaram tanto dele, pintaram-no de tantos modos, que as pessoas se familiarizaram com essa ideia e muitos acharam que era preciso aproveitar a ocasião para ver o que ele é realmente. Resultou que, à parte um pequeno número de mulheres timoratas, o anúncio da chegada do verdadeiro diabo tinha algo de picante para aqueles que só o tinham visto em quadros ou no teatro; ele foi para muita gente um poderoso estimulante, de modo que os que quiseram levantar, por esse meio, uma barreira às novas ideias, agiram contra seu próprio objetivo e tornaram-se, sem o querer, agentes propagadores tanto mais eficazes quanto mais forte gritavam. Os outros críticos não tiveram sucesso maior porque, aos fatos constatados, com raciocínios categóricos, só puderam opor denegações. Lede o que eles publicaram e em toda parte encontrareis prova de ignorância e de falta de observação séria dos fatos, e em nenhuma parte uma demonstração peremptória de sua impossibilidade. Toda a sua argumentação resume-se assim: "Eu não acredito, então não existe; todos os que acreditam são loucos e somente nós temos o privilégio da razão e do bom senso." O número dos adeptos feitos pela crítica séria ou burlesca é incalculável, porque em todas elas apenas se encontram opiniões pessoais, vazias de provas contrárias. Continuemos nossa exposição.
As comunicações por batidas eram lentas e incompletas; reconheceu-se que adaptando um lápis a um objeto móvel: cesta, prancheta ou um outro, sobre os quais se colocavam os dedos, esse objeto se colocava em movimento e traçava caracteres. Mais tarde reconheceu-se que esses objetos eram tão-somente acessórios que podiam ser dispensados; a experiência demonstrou que o Espírito, que agia sobre um corpo inerte dirigindo-o à vontade, podia agir da mesma forma sobre o braço ou a mão, para conduzir o lápis. Tivemos então médiuns escritores, ou seja, pessoas que escreviam de modo involuntário, sob a impulsão dos Espíritos, dos quais poderiam ser instrumentos e intérpretes. A partir daí, as comunicações não tiveram mais limites, e a troca de pensamentos pode-se fazer com tanta rapidez e desenvolvimento quanto entre os vivos. Era um vasto campo aberto à exploração, a descoberta de um mundo novo: o mundo dos invisíveis, como o microscópio havia feito descobrir o mundo dos infinitamente pequenos.
Que são esses Espíritos? Que papel desempenham no universo? Com que objetivo se comunicam com os mortais? Tais as primeiras questões que se teria a resolver. Soube-se logo, por eles mesmos, que não são seres à parte na criação, mas as próprias almas daqueles que viveram na terra ou em outros mundos; que essas almas, depois de terem despojado de seu envoltório corporal, povoam e percorrem o espaço. Não houve mais possibilidade de dúvidas quando se reconheceram, entre eles, parentes e amigos, com os quais se pôde conversar; quando estes vieram dar prova de sua existência, demonstrar que a morte para eles foi somente a do corpo, que sua alma ou Espírito continua a viver, que estão ali junto de nós, vendo-nos e observando-nos como quando eram vivos, cercando de solicitude aqueles que amaram, e cuja lembrança é para eles uma doce satisfação. 

Allan Kardec

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

NOSSOS IRMÃOS



Um pensamento de simpatia e de amor para os nossos irmãos que se recuperam!... Muitos são chamados criminosos, mas, em verdade, foram doentes. Sofriam desequilíbrios da alma, que se lhes encravavam no ser, quais moléstias ocultas.
        Praticaram delitos, sim... Hoje, entretanto, procuram-te a companhia, sonhando renovação.
        Amaram, ignorando que o afeto deve estar vinculado à harmonia da consciência, e amargaram terrível secura, em labirintos de sombra, a suspirarem agora pelo orvalho da luz.
        Eram sovinas e sonegavam o pão à boca faminta dos semelhantes; contudo, pretendem contigo o reingresso na escola da caridade.
        Acreditavam-se em regime de exceção, quando o orgulho lhes assoprava a mentira; no entanto, após resvalarem no erro, refugiam-se em tua fé, anelando refazimento.
        Renderam-se às tentações e foram pilhados na armadilha do mal; todavia, presentemente, buscam-te os olhos e apertam-te as mãos, ansiando esquecer e recomeçar.
        Não lhes fites o desacerto.
        Alimenta-lhes a esperança.
        Não te animarias a espancar a cabeça de quem estivesse a convalescer, depois da loucura, nem cortarias a pele em cicatrizes recentes.
        Enfermos graves da alma, todos nós fomos ontem!...
        Rende, pois, graças a Deus, se já podes prestar auxílio, porque, se chegaste ao grau de restauração em que te encontras, é que, decerto, alguém caminhou pacientemente contigo, com bastante amor de servir e bastante coragem de suportar.

(Livro: O Espírito da Verdade. Francisco Cândido Xavier por Albino Teixeira)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

ENCANTO PESSOAL


    
Generaliza-se e se intensifica, na sociedade hodierna, a irradiação agradável do encanto pessoal de cada criatura, que passa a condicionar-se  em padrões de comportamentos capazes de conquistar admiração e gerar afetividade.
     Campeões da beleza estudam técnicas de apresentação e postura, a fim de mais expandirem os recursos de que são dotados, colocando-se a serviço do mercado das sensações, de que desfrutam largas fatias de fama e de dinheiro.
     Representantes do sexo em expansão, fixam conduta e artifícios de sedução, adquirindo certo magnetismo artificial de que se impregnam, conquistando espaço nos veículos de comunicação de massa, vendendo sensações fortes, sob o açodar de interesses vigorosos.
     Criaturas ambiciosas esfalfam-se em cursos de variada denominação, tentando imitar os seus ídolos, adaptando-se aos modismos, de forma a competir nos jogos das forças em desgoverno da propaganda exagerada, buscando aparecer e brilhar sob as luzes dos refletores.
***
     O encanto pessoal passou a constituir meta a ser lograda, como se a vida ficasse reduzida à aparência e ao fulgor breve da quadra juvenil.
     O magnetismo humano resulta do estado espiritual de cada ser.
     Conforme sejam as suas expressões íntimas, irradia-se a claridade ou a sombra da sua constituição emocional.
     Pode acontecer que a beleza física sobreponha-se aos estados mórbidos da personalidade, e um encanto que não corresponde à realidade se exteriorize atraente, agradável, avassalador...
     O treinamento artificial pode favorecer a aparência do indivíduo, para que se lhe torne mais interessante a presença.
     A maneira de falar, de vestir, de sentar, de andar, de comportar-se e o estudo de cada postura, dão ao ser humano um significado que contribui para a sua representatividade social.
     Indispensável, porém, que haja um esforço para a sua mudança interior, no sentido de melhorar-se.
     A aquisição e desenvolvimento dos valores morais permitem uma emanação de energia salutar, cativante, que torna a pessoa querida e respeitada.
     A técnica exterior, porém, é verniz que não logra ocultar a face real do homem, enquanto o seu estado de alma, trabalhado com os valores intelecto-morais, dá-lhe o verdadeiro brilho, que impregna todos quantos dele se acercam.
     Os expoentes do encanto pessoal, invejados e imitados, não raro vivem atormentados e inquietos, realizando mecanismos de evasão a fim de ocultarem, sob uma aparência irreal, o que lhes vai no íntimo.
***
     Narram os Evangelhos que, de Jesus, se irradiava peregrina claridade e que as Suas vestes resplandeciam.
     Quantos O tocavam se beneficiavam, pois que, Dele saíam virtudes...
***
     Se desejas possuir um superior magnetismo, envolvente e benéfico, em forma de encanto pessoal, ama e exterioriza o amor, tornando-te gentil e bom, afável e generoso, cordial e manso, alegre e devotado.
     O amor é o dínamo gerador de todas as forças positivas e representativas da vida, ao teu alcance, para a glória e a honra da própria Vida.

(De “Alegria de Viver”, de Divaldo Pereira Franco,
pelo Espírito Joanna de Ângelis)

HIGIENE ESPIRITUAL


        
Ante os detritos da maledicência, usemos a vassoura das boas palavras.
        Ante o lixo do sarcasmo, cavemos a fossa do silêncio.
        Ante os vermes da crueldade, mobilizemos os antissépticos do socorro cristão.
        Ante o vírus da cólera ou da irritação que nos defrontam nas frases ou nas atitudes alheias, pratiquemos a profilaxia da prece.
        Ante os tóxicos do pessimismo negrejante, acendamos a claridade do bom ânimo.
        Ante o veneno da ociosidade, mobilizemos os nossos recursos de serviço.
        Ante as serpes da incompreensão, realizemos mais vasto plantio de caridade.
        Ante os micróbios da desconfiança, incentivemos a nossa sementeira de boa-vontade e fé.
        Ante a erva sufocante dos conflitos de opinião, refugiemo-nos na boa vontade para com todos, que procura garantir o bem, acima
de tudo.
        Ante as perigosas moléstias do amor próprio ferido, a expressar-se no corpo e na alma, através de mil modos,  pratiquemos o perdão
incondicional e incessante.
        Jesus não é somente o nosso Divino Orientador.
        É também o Divino Médico de nossa vida.
        Procuremos, pois, no Evangelho, as justas instruções para a nossa higiene espiritual e alcançaremos a harmonia para sempre.

(Livro: Relicários de Luz. Francisco Cândido Xavier por André Luiz)

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

SOMENTE O AMOR



Cada criatura vive no centro das realizações dos seus próprios pensamentos, como a raiz da árvore se mantém sob o tronco e a ramaria que nutriu e desenvolveu.
        Todos estamos limitados, por isso, à extensão da onda mental que somos suscetíveis de criar e desenvolver.
        Ninguém penetrará o domínio das forças que não compreende.
        A percepção instintivas do irracional está longe de entender o palácio de princípios superiores que regem a vida dos homens, tanto quanto os homens se acham distantes do ingresso espiritual no santuário divino das leis que dirigem a vida dos anjos.
        Quem se encarcera na escuridão, não segue além das trevas; quem se rende ao mal, com as dívidas do mal se confunde.
        É por essa razão que Jesus nos descortinou os horizontes do amor, com as únicas sendas capazes de alargar os limites de nossa comunhão com as fontes mais altas da vida.
        Somente quem auxilia sempre adquire o tesouro da simpatia com que pagará, feliz, o tributo da ascensão.
        Somente quem perdoa consegue libertar-se para as experiências de ordem superior.
        Somente quem exerce o ministério da fraternidade real encontra na Terra o seu próprio lar e na Humanidade a sua própria família.
        Somente quem ama quebra os grilhões da sombra.
        Ainda que com extrema dificuldade, ambientemos a plantação do amor, no solo de nossas almas.
        Só o amor consegue romper as algemas de nossos compromissos com a animalidade e só ele nos fará suficientemente fortes e valorosos, para vencer os percalços e limitações do cubículo da carne, orientando-nos no caminho da sublimação imortal.


(Francisco Cândido Xavier por Emmanuel. In: DE URGÊNCIA)

terça-feira, 18 de setembro de 2012

JESUS E VIGILÂNCIA



Poucos são os que dão valor devido à vigilância, possivelmente por imaginarem que ela deva ser uma virtude dos piegas, daqueles que não sabem o que querem ou o que fazem, enfim, para os tolos ou para os frágeis.
          Olvidam-se ou ignoram que o texto do Evangelista Marcos, no seu capítulo 13, versículos 32 a 37, se faz de grande importância e oportunidade para todas as almas, uma vez que a vigilância está no mesmo nível da oração, tendo-se que de nada adiantará o conjunto das orações na vida de quem não se acautela, de quem não guarda cuidados ou não vigia.
          Vigilância no falar... portas abertas para o entendimento.
          Vigilância no olhar... afastamento das sombras do pensamento.
          Vigilância no ouvir... passos firmes contra a maledicência.
          Vigilância no divertimento... vacinação contra o desequilíbrio.
          Vigilância na convivência com próximo ... ajustamento às faixas da fraternidade.
          Importante é que cada pessoa, no seu esforço por ser precavida, atenta aos movimentos da própria rota que empreende, não se acostume ao fato de desmandar-se, de perturbar e ferir, ou de provocar infelicidades, semeando espinhos pelas estradas de todos, impensadamente, vindo a desculpar-se todas as vezes, como se fosse fácil para os outros a virtude do perdão e, para si, difícil fazer-se vigilante com seus gestos e atitudes, falas e desatinos, antes de cometê-los.
          Caber aos amigos de Jesus a manutenção dessa indispensável virtude, acautelando-se em relação aos equívocos e aos males, pois ninguém sabe qual será o momento dos acertos com a consciência, ou quando o Senhor nos virá indagar sobre os nossos cometimentos, “se de tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo ou se no amanhecer”.


(Livro: Vida e Mensagem. J. Raul Teixeira por Francisco de Paula Vítor)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O CUMPRIMENTO DAS LEIS



“Não vim destruir a lei.” Jesus (Mt, 5:17)

        Nos tempos atuais do mundo, a cada dia surgem numerosas leis que pretendem normatizar as relações sociais dos indivíduos, as relações empresariais ou as relações internacionais. Outras leis tombam, ao mesmo tempo, revogadas por não mais atender às necessidades das áreas para as quais foram criadas.
        Leis que foram feitas para manter privilégios de famílias reais ou imperiais tiveram que tombar perante o insurgimento dos povos, face à ilegitimidade ou mesmo à imoralidade daqueles estatutos.
        Leis que estabeleciam a cidadania, consignando direitos e deveres de todos e de cada um foram bem-vindas, dando melhor configuração às relações da sociedade.
        Leis que conferiam poderes discricionários para determinadas categorias de homens contra outros homens tiveram que cair diante dos movimentos sociais que, desejosos de eliminar privilégios e abusos oligárquicos ou grupais, expuseram as próprias vidas em favor de uma vida melhor para o futuro.
        Leis que aboliram sistemas escravistas, alevantando a pessoa para os degraus da dignificação onde devia estar, foram bem-vindas nas sociedades em que foram firmadas, anunciando tempos novos nas interações humanas.
        Leis que propugnavam pela perseguição dos opositores dos mandatários, enquanto ofereciam premiações a bajuladores e fâmulos covardes, quanto oportunistas, foram derrotadas e substituídas tão logo se foi desenvolvendo o amadurecimento dos legisladores dotados de mais nítida visão dos fundamentos da vida social.
        Leis que favoreciam qualquer cidadão a concorrer a cargos públicos, por concursos ou sufrágio popular, foram bem-vindas por significar o exercício da justiça que estabelece a igualdade de direito entre pessoas de uma sociedade.
        É francamente perceptível que a verdadeira justiça ainda não é a virtude mais apreciada em todas as sociedades do mundo.
        Reconhecem-se, em incontáveis países, a força do arbítrio de consciências dominadoras, governando pela força das armas ou pelo intelecto mal conduzido, ou, ainda, pela troca de favorecimentos imorais ao arrepio de quaisquer venerandas leis existentes.
        Encontram-se povos que ainda suportam a fome de alimentos, num mundo onde triunfa o desperdício e o mau uso dos bens públicos, a despeito de qualquer legislação, por mais lúcida que seja.
        Ainda se vê, nos dias da atualidade, o domínio de povos sobre povos por causa de criminosos interesses no seu subsolo, nas suas riquezas culturais ou em suas posições estratégicas para fins beligerantes ou comerciais.
        Tudo isso, porém, terá que passar um dia conforme os ensinamentos de Jesus.
        Todas as leis de exceção desaparecerão da Terra logo que tenham desaparecido os motivos que levaram indivíduos ou sociedades a se inscrever em difíceis processos de expiação.
        Como a cada um será concedido conforme suas obras, o Cristo não veio para quebrar a ordem vigorante no Universo, e a lei de causa e efeito faz parte dessa ordem, respondendo pela Justiça Divina.
        No entanto, para poupar os justos dos efeitos drásticos do desequilíbrio humano, os tempos serão abreviados, em atendimentos aos preceitos da Misericórdia do Alto, diminuindo as agruras, as asperidades desses dias difíceis.
        As leis de Deus, que Jesus não veio descumprir, são de perfeita justiça mas, igualmente, de perfeito amor. Nelas nenhum privilégio, nenhuma concessão indevida.
        Jesus Cristo é Aquele que não veio destruir as leis divinas. Veio, em verdade, dar-lhes execução, desarticulando as leis humanas que, em oposição aos preceitos do Criador, ainda semeiam sombras, ainda impõem brutalidade e apóiam a indignidade com que são tratadas tantas comunidades indefesas.

(De “Quem é o Cristo?”,  de J. Raul Teixeira, pelo Espírito Francisco de Paula Vitor – Ed. Fráter)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

REVISTA ESPÍRITA, JULHO DE 1866



Questões e problemas
Identidade dos Espíritos nas comunicações particulares
(Revista Espírita, julho de 1866)

Por que os Espíritos evocados por um sentimento de afeição muitas vezes se recusam a dar provas incontestáveis de sua identidade?
Compreende-se todo o valor ligado às provas de identidade da parte dos Espíritos que nos são caros. Tal sentimento é muito natural e parece que pelo fato dos Espíritos poderem manifestar-se deve ser-lhes muito fácil atestar a sua personalidade. A falta de provas materiais é, para certas pessoas, sobretudo para as que não conhecem o mecanismo da mediunidade, isto é, a lei das relações entre os Espíritos e os homens, uma causa de dúvida e de penosa incerteza. Embora tenhamos tratado várias vezes desta questão, vamos examiná-la novamente, para responder a algumas perguntas que nos são dirigidas.
Nada temos a acrescentar ao que foi dito sobre a identidade dos Espíritos que vêm unicamente para a nossa instrução, e que deixaram a Terra há algum tempo. Sabemos que ela não pode ser atestada de maneira absoluta e que devemo-nos limitar ao julgamento do valor da linguagem.
A identidade não pode ser constatada com certeza senão para os Espíritos que partiram recentemente, cujo caráter e hábitos se refletem em suas palavras. Nestes, a identidade se revela por mil particularidades. Algumas vezes a prova ressalta de fatos materiais, característicos, mas o mais das vezes de nuanças da própria linguagem e de uma porção de pequenos nadas que, por serem pouco evidentes, não são menos significativos.
Muitas vezes as comunicações deste gênero encerram mais provas do que se pensa, e que descobrimos com mais atenção e menos prevenção. Infelizmente, na maior parte do tempo, as pessoas não se contentam com o que o Espírito quer ou pode dar; querem provas à sua maneira; pedem-lhe para dizer ou fazer isto ou aquilo; que lembre um nome ou um fato, e isso num momento dado, sem pensar nos obstáculos que por vezes a isto se opõem, e paralisam a sua boa vontadeDepois, obtido o que desejam, muitas vezes querem mais. Acham que ainda não é bastante concludente; após um fato, pedem outro e mais outro. Numa palavra, nunca têm bastante para se convencer. É então que, muitas vezes, fatigado por tal insistência, o Espírito cessa completamente de se manifestar, esperando que a convicção chegue por outros meios. Mas muitas vezes também sua abstenção lhe é imposta por uma vontade superior, como punição ao solicitante muito exigente, e também como prova para a sua fé, porque, se por algumas decepções e não obtenção do que quer e pela maneira pela qual o quer, ele viesse a abandonar os Espíritos, esses por sua vez o abandonariam, deixando-o mergulhado nas angústias e nas torturas da dúvida, feliz quando o seu abandono não tem consequências mais graves.
Mas, numa porção de casos, as provas materiais de identidade são independentes da vontade do Espírito e do desejo que ele tem de as dar. Isto se deve à natureza ou ao estado do instrumento pelo qual ele se comunica. Há na faculdade mediúnica uma infinita variedade de nuanças que tornam o médium apto ou impróprio à obtenção de tais ou quais efeitos que, à primeira vista, parecem idênticos, mas que dependem de influências fluídicas diferentes. O médium é como um instrumento de muitas cordas, e não pode emitir som pelas cordas que lhe faltam.
Eis um exemplo notável:
Conhecemos um médium que pode ser posto entre os de primeira ordem, tanto pela natureza das instruções que recebe quanto pela aptidão para se comunicar com quase todos os Espíritos, sem distinção. Inúmeras vezes, em evocações particulares, obteve irrefutáveis provas de identidade, pela reprodução da linguagem e do caráter de pessoas que jamais tinha conhecido. Há algum tempo, fez para uma pessoa que acabava de perder subitamente vários filhos, a evocação de um destes últimos, uma menina. A comunicação refletia perfeitamente o caráter da menina e era tanto mais satisfatória porque respondia a uma dúvida do pai acerca de sua posição como Espírito. Contudo, só havia provas de certo modo morais. O pai achava que um outro filho teria podido dizer o mesmo; queria algo que só a filha pudesse dizer; admirava-se, sobretudo de que o chamasse de pai, em vez do apelido familiar que lhe dava, e que não era um nome francês, partindo da ideia de que se ela dizia uma palavra, podia dizer-lhe outra. Tendo o pai perguntado a razão, eis a resposta que, a respeito, deu o guia do médium:
“Embora inteiramente desprendida, vossa filhinha não estaria em condições de vos fazer compreender por que ela não pode fazer com que o médium repita os termos por vós conhecidos que ela lhe transmite. Ela obedece a uma lei em se comunicando, mas não a compreende suficientemente para explicar o seu mecanismo. A mediunidade é uma faculdade cujas nuanças variam ao infinito e os médiuns que de ordinário tratam de assuntos filosóficos só obtém raramente, e sempre espontaneamente, essas particularidades que fazem reconhecer a personalidade do Espírito de maneira evidente. Quando os médiuns desse gênero pedem uma prova de identidade, no desejo de satisfazer o evocador, as fibras cerebrais tensas por seu desejo já não são bastante maleáveis para que o Espírito as faça mover-se à sua vontade. Daí se segue que as palavras características não podem ser reproduzidas. O pensamento fica, mas a forma não mais existe. Não há, pois, nada de estranhável que vossa filha vos tenha chamado de pai em vez de vos dar a qualificação familiar que esperáveis. Por um médium especial obtereis resultados que vos satisfarão. E só ter um pouco de paciência.”
Depois de alguns dias, achando-se esse senhor no grupo de um dos nossos membross, obteve de outro médium, pela tiptologia, e em presença do primeiro, não só o nome que desejava, sem que tivesse pedido especialmente, mas outros fatos de notável precisão. Assim, a faculdade do primeiro médium, por mais desenvolvida e flexível que fosse, não se prestava a esse gênero de produção mediúnica. Ele podia reproduzir as palavras que são a tradução do pensamento transmitido, e não termos que exigem um trabalho especial. Por isso, o conjunto da comunicação refletia o caráter e a disposição das ideias do Espírito, mas sem sinais materiais característicos. Um médium não é um mecanismo próprio para todos os efeitos. Assim como não se encontram duas pessoas inteiramente semelhantes no físico e no moral, não há dois médiuns cuja faculdade seja absolutamente idêntica.
É de notar que as provas de identidade quase sempre vêm espontaneamente, no momento em que menos se pensa, ao passo que são dadas raramente quando pedidas. Capricho da parte do Espírito? Não; há uma causa material, que é a seguinte.
As disposições fluídicas que estabelecem as relações entre o Espírito e o médium oferecem nuanças de extrema delicadeza, inapreciáveis por nossos sentidos e que variam de um momento a outro no mesmo médium. Muitas vezes um efeito que não é possível num desejado momento, sê-lo-á uma hora, um dia ou uma semana mais tarde, porque as disposições ou a energia das correntes fluídicas terão mudado. Dá-se aqui como se dá na fotografia, onde uma simples variação na intensidade ou na direção da luz basta para favorecer ou impedir a reprodução da imagem. Um poeta faz versos à vontade? Não. É-lhe necessária a inspiração; se não estiver em condições favoráveis, por mais que cave o cérebro, nada obtém. Perguntai-lhe por quê. Nas evocações, o Espírito deixado à vontade aproveita disposições que encontra no médium, aproveita o momento propício. Mas, quando essas disposições não existem, ele não pode mais que o fotógrafo com a ausência de luz. A despeito de seu desejo, portanto, ele não pode sempre satisfazer instantaneamente a um pedido de provas de identidade. Eis por que é preferível esperá-las do que solicitá-las.
Além disto, é preciso considerar que as relações fluídicas que devem existir entre o Espírito e o médium jamais se estabelecem completamente desde a primeira vez, pois a assimilação só se faz com o tempo e gradualmente. Disso resulta que, inicialmente, o Espírito sempre experimenta uma dificuldade que influi na clareza, na precisão e no desenvolvimento das comunicações, ao passo que, quando o Espírito e o médium estão habituados um ao outro, quando seus fluidos estão identificados, as comunicações se dão naturalmente, porque não há mais resistências a vencer.
Vê-se por aí quantas considerações há que levar em conta no exame das comunicações. É por não fazê-lo e por não conhecer as leis que regem essas espécies de fenômenos que muitas vezes se pede o que é impossível. É absolutamente como se alguém que não conhecesse as leis da eletricidade se admirasse que o telégrafo pudesse experimentar variações e interrupções e concluísse que a eletricidade não existe.
O fato da constatação da identidade de certos Espíritos é um acessório no vasto conjunto dos resultados que o Espiritismo abarca. Se essa constatação fosse impossível, ela nada prejulgaria contra as manifestações em geral, nem contra as consequências morais daí decorrentes. Seria preciso lamentar os que se privassem das consolações que ela proporciona, por não terem obtido uma satisfação pessoal, pois isto seria sacrificar o todo à parte.

SOBRE A MORTE DOS ESPÍRITAS



(Revista Espírita, julho de 1865 - Questões e problemas - Sobre a morte dos espíritas)

Desde algum tempo a morte tem levado bem grande número de espíritas fervorosos e devotados, cujo concurso teria podido ser útil à causa. Qual a consequência a tirar deste fato?
Esta pergunta foi motivada pela morte recente do Sr. Geoffroy, de Saint-Jean-d’Angely, membro honorário da Sociedade Espírita de Paris.

(Sociedade de Paris, 26 de maio de 1865 - Médium: Sra. B***)

Como acaba de dizer o vosso presidente, um grande número de adeptos de nossa bela doutrina, de pouco tempo para cá, deixam o vosso mundo. Não os lamenteis. Depois de haverem dado as primeiras picaretadas nesse campo que ides preparar, eles foram repousar algumas horas, a fim de se prepararem para um novo trabalho; foram retemperar sua alma viril nessa fonte de vida e de progresso que, cada vez mais, deve derramar sobre vossa Terra suas ondas benfazejas. Em breve, novos atletas, eles reaparecerão na estacada, com novas forças e uma caridade mais perfeita, porque a alma que entreviu os esplendores da eterna verdade não pode recuar; mas, fiel à atração divina que quer aproximá-la do foco da Justiça, da Ciência e do Amor, segue seu caminho sem mais se desviar.
Ó, meus amigos, como é bela esta morada que vos está preparada! Tornai-vos dignos dela o quanto antes. Libertai-vos, pois, dessas suscetibilidades indignas que muitas vezes ainda se encontram entre vós. São os restos dessas raízes do orgulho, tão difícil de extirpar do vosso mundo. Entretanto, foi para destruí-lo que o Cristo se encarnou entre vós, porque enquanto ele subsistir entre os humanos, eles não chegarão à felicidade.
Meus amigos, há dezoito séculos vos pregam a admirável doutrina do Cristo, e ela ainda não foi compreendida, mas o Espiritismo, vindo ensinar-vos a desenvolver vossas faculdades intelectuais e a lhes dar uma boa direção, abre uma era nova em que se preencherá a lacuna que existia no ensino primitivo.
Estudai, pois, de maneira séria e digna de tão grave assunto, mas, sobretudo, modificai o que em vós há de imperfeito, porque o  mestre diz a todos: “Tornai-vos perfeitos, porque vosso pai celeste é perfeito.” Então vossa alma depurada elevar-se-á gloriosa para as esplêndidas regiões onde o mal não tem mais acesso e onde tudo é harmonia.

SÃO LUÍS

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A CÓLERA



(O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. IX
– Bem-aventurados os que são brandos e pacíficos
– Instruções dos Espíritos, itens 9 e 10)

            9. O orgulho vos induz a julgar-vos mais do que sois; a não suportardes uma comparação que vos possa rebaixar; a vos considerardes, ao contrário, tão acima dos vossos irmãos, quer em espírito, quer em posição social, quer mesmo em vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e aborrece. Que sucede então? Entregai-vos à cólera.
            Pesquisai a origem desses acessos de demência passageira que vos assemelham ao bruto, fazendo-vos perder o sangue-frio e a razão; pesquisai e, quase sempre, deparareis com o orgulho ferido. Que é o que vos faz repelir, coléricos, os mais ponderados conselhos, senão o orgulho ferido por uma contradição? Até mesmo as impaciências, que se originam de contrariedades muitas vezes pueris, decorrem da importância que cada um liga à sua personalidade, diante da qual entende que todos se devem dobrar.
            Em seu frenesi, o homem colérico a tudo se atira: à natureza bruta, aos objetos inanimados, quebrando-os porque lhe não obedecem. Ah! se nesses momentos pudesse ele observar-se a sangue-frio, ou teria medo de si próprio, ou bem ridículo se acharia! Imagine ele por aí que impressão produzirá nos outros. Quando não fosse pelo respeito que deve a si mesmo, cumpria-lhe esforçar-se por vencer um pendor que o torna objeto de compaixão.
            Se ponderasse que a cólera a nada remedeia, que lhe altera a saúde e compromete até a vida, reconheceria ser ele próprio a sua primeira vítima. Mas, outra consideração, sobretudo, deveria contê-lo, a de que torna infelizes todos os que o cercam. Se tem coração, não lhe será motivo de remorso fazer que sofram os entes a quem mais ama? E que pesar mortal se, num acesso de fúria, praticasse um ato que houvesse de deplorar toda a sua vida!
            Em suma, a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede se faça muito bem e pode levar à prática de muito mal. Isto deve bastar para induzir o homem a esforçar-se para a dominar. O espírita, ao demais, é concitado a isso por outro motivo: o de que a cólera é contrária à caridade e à humildade cristãs.
Um Espírito protetor. (Bordeaux, 1863.)

            10. Segundo a ideia falsíssima de que lhe não é possível reformar a sua própria natureza, o homem se julga dispensado de empregar esforços para se corrigir dos defeitos em que de boa vontade se compraz, ou que exigiriam muita perseverança para serem extirpados. É assim, por exemplo, que o indivíduo, propenso a encolerizar-se, quase sempre se desculpa com o seu temperamento. Em vez de se confessar culpado, lança a culpa ao seu organismo, acusando a Deus, dessa forma, de suas próprias faltas. É ainda uma consequência do orgulho que se encontra de permeio a todas as suas imperfeições.
            Indubitavelmente, temperamentos há que se prestam mais que outros a atos violentos, como há músculos mais flexíveis que se prestam melhor aos atos de força. Não acrediteis, porém, que aí resida a causa primeira da cólera e persuadi-vos de que um Espírito pacífico, ainda que num corpo bilioso, será sempre pacífico, e que um Espírito violento, mesmo num corpo linfático, não será brando; a violência apenas tomará outro caráter. Não dispondo de um organismo próprio a lhe secundar a violência, a cólera se tornará concentrada, enquanto no outro caso será expansiva.
            O corpo não dá cólera àquele que não na tem, do mesmo modo que não dá os outros vícios. Todas as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. A não ser assim, onde estariam o mérito e a responsabilidade? O homem deformado não pode tornar-se direito, porque o Espírito nisso não pode atuar; mas, pode modificar o que é do Espírito, quando o quer com vontade firme. Não vos mostra a experiência, a vós espíritas, até onde é capaz de ir o poder da vontade, pelas transformações verdadeiramente miraculosas que se operam sob as vossas vistas? Compenetrai-vos, pois, de que o homem não se conserva vicioso, senão porque quer permanecer vicioso; de que aquele que queira corrigir-se sempre o pode. De outro modo, não existiria para o homem a lei do progresso.
Hahnemann. (Paris, 1863.)

terça-feira, 11 de setembro de 2012

INTERROGAÇÃO DO MESTRE


   
     “Que aproveita ao homem granjear o mundo
todo, perdendo-se ou prejudicando a si mesmo?”
– Jesus (Lucas, 9:25)

        Em verdade, com a força associada à inteligência, pode o homem terrestre:
        revolver o solo planetário;
        sugar os benefícios da Terra;
        incentivar interesses personalistas;
        erguer arranha-céus nas cidades maravilhosas;
        construir palácios para o ninho doméstico;
        elevar-se ao firmamento em máquinas possantes;
        consultar os abismos do mar;
        atravessar oceanos em navios velozes;
        estender utilidades no plano da civilização;
        criar paraísos de fantasia para os sentidos corporais;
        monopolizar os negócios do mundo;
        abrir estradas ligando continentes e povos;
        conversar à distância de milhares de quilômetros;
        dominar o dia que passa em carros de triunfo;
        substituir os ídolos de barro no altar da ilusão;
        formar exércitos poderosos, consagrados à morte;
        forjar espadas e canhões;
        ditar duras leis aos mais fracos;
        gritar a palavra de ódio em tribunais de ouro;
        exercer a vingança, oprimir, gozar, amaldiçoar...
        Em verdade, o homem, usufrutuário da Terra e depositário de confiança de Deus, pode fazer tudo isso; contudo, que lhe aproveitará tamanha exaltação se, distraído de si mesmo, se vale das glórias da inteligência para precipitar-se nos despenhadeiros da treva e da morte?

 (Livro: “Segue-me!...”,  Francisco Cândido Xavier por Emmanuel)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

MARCADOS


         
 Acerca-te dos vencidos para auxiliar.
          Não creias, porém, que eles sejam apenas os companheiros que tombaram na luta e se encontram caídos na estrada, tomados pelo desalento e o pessimismo. Concentra tua atenção e com os olhos do espírito surpreenderás muitos deles ao teu lado, guardando aparência robusta e provocando ruído para esconderem as marcas da infelicidade.
          Todavia, é imprescindível amar para ajudar com eficiência.
          Alguns são amigos assinalados por desastres e acidentes morais, que o ferrete da Lei Divina atingiu expungindo, recalcados, os pesados débitos...
          Outros são irmãos marcados por enfermidades cruéis, que lhes desorganizaram o aparelho digestivo, desviando-lhes o tubo excretor...
          Vários são companheiros vitimados por heranças físicas, que os olhos do mundo não alcançam, guardadas em tecidos caros, recuperando o pretérito...
          Diversos são os corações solitários, que se reajustam aos impositivos de afeições angustiosas, renovando o panorama da mente enferma...
          Outros tantos são espíritos de procedências várias, perturbados por sinais vigorosos que os prostram, no silêncio, aniquilando-lhes a esperança...
          Todos eles necessitam de unguento para as marcas dolorosas, que funcionam como corretivos santificantes.
          Quando os encontres, não os atormentes mais com indagações desnecessárias, ferindo-lhes as úlceras com estiletes de curiosidade negativa.
          Viajores do tempo, nas estações da Terra, possuímos nossos sinais e marcas que nos dilaceram as fibras íntimas.
          Antes que desfaleçam esses marcados, podes fazer algo em benefício deles. Mais tarde surgirá um novo dia, oportunidade nova de caminhar  e, embora sejas convidado a ajudar, orando, não poderás prever se, de um para outro momento, serás convidado pela Lei a carregar mais vigorosa marca...

(Livro: Messe de Amor. Divaldo Franco por Joanna de Ângelis)

ORAÇÃO

“Perseverai em oração, velando nela com ação de graças.” Paulo (Colossenses, 4:2) Muitos crentes estimariam movimentar a prece, qu...